O presidente venezuelano, Nicolás Maduro rejeitou na quinta-feira (28/03) as ameaças ao seu país feitas por Marco Rubio, secretário de Estado dos Estados, durante sua visita à Guiana. Rubio estava acompanhando exercícios militares conjuntos dos Estados Unidos com a Guiana com a qual assinou um pacto militar em meio à disputa territorial desta com a Venezuela.
“Imbecil. Ninguém ameaça a Venezuela porque esta é a pátria dos libertadores, esta é a pátria de Bolívar”, disse Maduro respondendo às ameaças de Rubio.
O secretario norte-americano classificou as reivindicações territoriais Venezuela de ilegítimas e disse que a Washington responderá a qualquer ação de Caracas para ocupar a área.
“Haverá consequências para agressores e aventureiros. Nossa marinha é grande e pode chegar a qualquer lugar do mundo e temos compromissos contínuos com a Guiana. Seria um grande erro com sérias consequências”, advertiu Rubio, deixando claro o total apoio de Washington à Guiana na disputa. Este é só mais um elemento das crescentes tensões entre os Estados Unidos e a Venezuela. A ele que se somam as deportações em massa de venezuelanos e as sanções que os EUA querem impor a quem compre petróleo daquele país.
Maduro respondeu dizendo que a Venezuela é uma terra de libertadores que não se submete à intimidação imperial. Ele também denunciou o apoio de Washington à extrema direita venezuelana e disse que Rubio mente quando acusa seu país de falta de democracia.
‘Rubio nunca viu uma assembleia popular’
“Marco Rubio nunca viu uma assembleia popular ou foi a um bairro porque ele faz parte da elite corrupta de Miami que odeia a Venezuela. Ele é o padrinho de La Sayona. Veja o que fizeram com os migrantes venezuelanos”, disse Maduro.
O vice-presidente venezuelano Delcy Rodrígues e o ministro das Relações Exteriores, Yván Gil, destacaram a necessidade de uma solução negociada para a disputa.
“Não permitiremos que interesses estrangeiros como os da Exxon Mobil ou do complexo militar-industrial dos Estados Unidos transformem nossa reivindicação territorial em um campo de batalha”, disse Gil, apontando o respeito ao Acordo de Genebra como única solução válida para a disputa.
No mesmo sentido, o vice-presidente reafirmou o compromisso inabalável da Venezuela com a paz, frisando, porém, que o povo bolivariano, herdeiro da dignidade da liberdade, não tolerará ataques à sua soberania ou direitos sobre a região de Essequibo. Ele disse que a Guiana “deve interromper imediatamente o uso ilegal e abusivo de um mar que ainda precisa ser delimitado” e sentar-se para negociar.
Já o ministro da Defesa venezuelano, Vladimir Padrino López garantiu que os militares não tolerarão “ameaças” de nenhum funcionário estrangeiro. Ele disse que seu país responderá com “firmeza e determinação” a “qualquer provocação ou ação que atente contra a integridade territorial e os sagrados interesses do país”.
Nicolás Maduro rejeita ameaças de Marco Rubio
Uma longa disputa de mais de um século
A região em disputa entre a Venezuela e a Guiana é o Essequibo, uma área de 160.000 quilômetros quadrados (a dois terços da Guiana), rica em petróleo e recursos naturais. Quando a Guiana conquistou sua independência do Reino Unido, em 1966, já herdou a disputa com o país vizinho.
Em 1899, uma arbitragem havia concedido à Guiana esse vasto território que era da coroa britânica. Mas Caracas reivindica um acordo que foi assinado com os britânicos em 1966, meses antes da independência. O chamado Acordo de Genebra reconhece a reivindicação da Venezuela sobre a área, determinando que a disputa deveria ser resolvida por meio de negociações. Desde então buscam-se soluções negociadas para a disputa territorial.
Com a chegada de Hugo Chaves ao poder, no final dos anos 90, a Venezuela deixou em suspenso sua reivindicação pela política de boa vizinhança praticada pelo governo. Chaves morreu em 2013 e, dois anos, a Exxon Mobil descobriu importantes jazidas de petróleo na região. Desde então, essa empresa norte-americana vem explorando o petróleo na área em uma joint-venture que tem 25% de capital chinês. A descoberta reascendeu a disputa.
Os esforços negociadores das Nações Unidas por intermediar a distuta se encerraram em 2018, quando o Secretário-Geral da ONU encaminhou o assunto ao Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), onde se encontra até hoje. Em agosto, a Venezuela apresentará sua posição ao TIJ, que está avaliando a validade da Sentença Arbitral de Paris, de 1899, que estabeleceu as fronteiras da Guiana incluindo Essequibo.
Venezuelanos aprovaram em referendo a anexação
Em dezembro de 2023, a Venezuela realizou um referendo não vinculante sobre a anexação de Essequibo. O pleito contou com 50% de participação e 95% dos que votaram o fizeram pela anexação.
Nas últimas semanas, o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela incluiu Essequibo na sua convocação de eleições regionais e parlamentares de 25 de maio próximo. “Se um guianense for nomeado governador de Essequibo (…), acusaremos essa pessoa de traição e a prenderemos”, disse o ministro da Segrança Nacional da Guiana, Roberson Benn.
Além disso, no início desse mês, uma corveta da marinha venezuelana se aproximou de uma plataforma da Exxon Mobil em Essequibo. Dois incidentes anteriores, em 2013 e 2018, resultaram em prisões de tripulantes embora tenham ocorrido numa área de fronteira menos clara. Nos últimos meses a Venezuela também enviou veículos militares para praias próximas.
“Resulta insólito que (Rubio) qualifique de ilegítima nossa reivindicação sobre o território Essequibo considerando que o Acordo de Genebra é o instrumento válido firmado pelas partes envolvidas na disputa territorial. E causa ainda maior preocupação que a República Cooperativa da Guiana pretenda recorrer à ingerência imperial”, disse o ministro da Defesa da Venezuela.
Fonte: Opera Mundi