quinta-feira, abril 24, 2025

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‘Radicalizar discurso levou Bolsonaro a ser réu’, afirma antropóloga


A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de aceitar a denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR), o que tornou Jair Bolsonaro e outros sete colaboradores réus na Justiça, sob a acusação de tentativa de golpe de Estado e quebra do Estado Democrático de Direito, deve afetar fortemente as aspirações eleitorais do bolsonarismo, e até da família Bolsonaro, mas não necessariamente da direita radical.

Essa é a opinião de Isabela Kalil, doutora em Antropologia pela Universidade de São Paulo, uma das coordenadoras do Observatório da Extrema Direita, que foi entrevistada nesta quarta-feira (02/04), pelo programa 20 MINUTOS.

Em conversa com o jornalista Breno Altman, fundador de Opera Mundi, Kalil disse que uma possível condenação de Bolsonaro pode levar a mais um racha na extrema direita, considerando que o ex-presidente “é uma figura que consegue manter as divergências dentro do campo da direita mais ou menos sob controle”.

 

“Vale lembrar que o campo da direita é muito amplo, ele engloba desde a centro-direita, a direita radical e a extrema direita, sendo que essa direita radical é uma direita que não necessariamente vai pedir golpe de Estado, ela se posiciona ali no limite daquilo que seria constitucional e democrático, enquanto a extrema direita está sempre tentando ultrapassar esses limites”, explicou a antropóloga.

Em outro momento da entrevista, Kalil destacou que “quanto mais o bolsonarismo e a extrema direita se radicalizam, no meio do caminho eles vão perdendo apoiadores que têm uma posição mais democrática, que são mais moderados, ou que de alguma maneira não se identificam com esse tipo de violência política”.

“Existe um processo que é contraditório e que ficou muito visível no bolsonarismo a partir de 2020 e 2021: o Bolsonaro passou a fazer um cálculo para as eleições de 2022 pelo qual ele parou de tentar atingir o máximo de eleitores possível e passou a radicalizar cada vez mais o seu discurso. Ele sempre foi radical, sempre foi um extremista, desde os Anos 90, mas para a eleição de 2018 ele construiu uma imagem pública que, do ponto de vista da roupagem, ficou um pouco mais democrática. Estou falando da ‘embalagem’, não que ele tenha ficado mais democrático. Foi uma construção do marketing político na imagem de alguém que seria o ‘protetor das mulheres’, preocupado com a família, usou muito o elemento da religião nesse processo”, analisa a cientista social.

Para Kalil, a partir da pandemia “Bolsonaro viu uma oportunidade de aproveitar a situação social de exceção causada pela pandemia como uma possibilidade para criar um Estado de exceção do ponto de vista político, ou seja, um golpe, uma ruptura política. Com isso ele abandonou essa roupagem, essa embalagem ‘menos golpista’, vamos dizer dessa forma, e passa a falar abertamente com seus apoiadores de uma maneira que é mais próxima com o que é o Bolsonaro de fato”.

“Com isso, ele faz um cálculo não mais para buscar o maior número possível de votos, e sim para construir uma base de seguidores muito radicalizada, que ele pudesse utilizar a partir da construção e um fato que permitisse algum tipo de intervenção, talvez militar, talvez com um decreto de Estado de exceção, que é a tentativa de golpe, e a partir daí ele perdeu um setor dos seus seguidores que acreditaram naquele Bolsonaro da embalagem democrática”, completa a acadêmica.

Contudo, Kalil enfatiza a diferenciação entre a extrema direita da “direita radical”, que ela considera menos disposta a ultrapassar limites democráticos. “As posições da direita radical são bem problemáticas, porque elas lidam com uma ambiguidade de querer estar no jogo democrático, ao memo tempo em que tensiona a própria democracia”, comenta.

A antropóloga acrescenta que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, “é hoje a pessoa que tem maiores possibilidades de substituir Jair Bolsonaro, ou de angariar o seu capital político”.



Fonte: Opera Mundi

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