Os ministros do Comércio da União Europeia iniciaram uma discussão, nesta segunda-feira (07/04), sobre as formas de responder à “mudança de paradigma” no sistema de comércio global após as tarifas anunciadas pelos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que protegem a unidade do bloco. Nessa discussão, surgiu uma divisão entre os países que preferem uma abordagem calma e gradual e aqueles que não descartam uma resposta rápida e enérgica.
No encerramento da reunião, o comissário Europeu do Comércio, Maros Sefcovic, alertou que a UE estava preparada para usar “cada ferramenta” de defesa comercial disponível. “Estamos preparados para usar cada ferramenta do nosso arsenal de defesa comercial para proteger o nosso mercado único, nossos produtores e consumidores”, disse o diplomata eslovaco, considerado experiente em negociações comerciais.
Uma das ferramentas mais poderosas da UE é o “mecanismo anticoerção”, adotado em 2023, que bloqueia diretamente o acesso aos mercados públicos do bloco.
Ao chegar à reunião, Sefcovic alertou sobre a gravidade da situação, pois envolveria responder “ao que eu descreveria como uma mudança de paradigma no sistema de comércio global”.
Em 2 de abril, o presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou tarifas generalizadas sobre as importações, com uma tarifa de 20% para os países da União Europeia, e agora o bloco precisa decidir como responderá.
No mesmo dia, o chefe da Casa Branca impôs 34% adicionais aos produtos chineses e levou Pequim a reagir na mesma moeda. A partir de 10 de abril, o Ministério das Finanças da China aplicará tarifas adicionais de 34% sobre os produtos norte-americanos que entrarem no país asiático.
Nesta segunda-feira, ignorando o impacto de sua guerra comercial nas bolsas de valores em todo o mundo, Trump ameaçou aplicar mais 50% sobre os produtos chineses, a partir de 9 de abril, se Pequim continuar com suas represálias tarifárias. “Além disso, todas as negociações com a China sobre suas reuniões solicitadas serão suspensas”, ele alertou.
Comissão Europeia ofereceu tarifa zero
Em Bruxelas, Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia – o braço Executivo do bloco –, disse que ofereceu aos EUA um acordo de tarifa zero sobre produtos industriais. Segundo Von der Leyen, a proposta foi feita “reiteradamente”, mas ela explicou que a ideia não provocou uma “reação adequada”.
Nesta segunda-feira, o ministro do Comércio da Suécia, Benjamin Dousa, disse: “Queremos mais comércio e mais cooperação com os Estados Unidos, mas a UE está unida. Somos a favor de soluções negociadas”.
O ministro da Economia e Comércio da Alemanha, Robert Habeck, afirmou que a Europa deveria estar preparada para usar todas as suas armas contra os Estados Unidos.
Chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen fala sobre ‘tarifas zero por zero’ contra os Estados Unidos
França, Espanha e Irlanda divergem sobre retaliação
O ministro do Comércio francês, Laurent Saint-Martin, observou que o bloco não deve descartar a possibilidade de uma retaliação mais firme. “Não devemos excluir nenhuma opção em relação a bens ou serviços, independentemente de como a abordamos, e usar a caixa de ferramentas europeia, que é muito abrangente e também pode ser extremamente agressiva”, observou.
A França, disse o ministro, é a favor de “fazer todo o possível para preferir a cooperação e a negociação à escalada e ao confronto”. No entanto, acrescentou, o bloco europeu deve “mostrar o que podemos fazer em termos de resposta”, e a posição da França é manter “todas as opções sobre a mesa”.
O ministro espanhol, Carlos Cuerpo, disse que os países da UE devem manter a “cabeça fria”. Segundo ele, “devemos deixar claro que a Europa não quer esse conflito comercial e que estamos apenas respondendo às medidas injustificadas e completamente arbitrárias que foram colocadas sobre a mesa”. O ministro espanhol frisou que a resposta da UE “sempre será justa e proporcional. Esse é o elemento essencial com o qual devemos começar esta discussão”, insistiu.
O ministro das Relações Exteriores e Comércio da Irlanda, Simon Harris, alertou para o risco da adoção pela UE de represálias contra as empresas de tecnologia dos EUA. “Seria uma escalada extraordinária em um momento em que deveríamos estar trabalhando para diminuir a tensão”, disse ele.
Proposta de Musk é “boa ideia”
A presidente da Comissão Europeia disse que continuava aberta para negociar com os Estados Unidos. “A Europa está sempre pronta para um bom acordo. Então, nós o mantemos na mesa. Mas também estamos preparados para responder com contramedidas e defender os nossos interesses”, disse Ursula von der Leyen.
No fim de semana, o bilionário Elon Musk, assessor do governo americano, disse em uma entrevista que esperava uma zona de livre comércio entre a Europa e os EUA.
Em resposta a essa ideia, o ministro da Economia alemão, Robert Habeck, disse que se Musk tivesse “algo a dizer, ele deveria ir até seu presidente e dizer: ‘Vamos acabar com esse absurdo, essa bagunça.’”
O italiano Antonio Tajani afirmou que seu “sonho” era um “mercado único transatlântico livre de tarifas”, e o francês Laurent Saint-Martin chamou as declarações de Musk de “uma boa ideia”.
Fonte: Opera Mundi