O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, acusou Israel nesta terça-feira (08/04) de ter transformado a Faixa de Gaza em um “campo de extermínio”. Após o fim da trégua de dois meses em 18 março, cerca de 1,4 mil palestinos morreram em ataques israelenses.
“O atual percurso é um beco sem saída, totalmente intolerável aos olhos do direito internacional e da história”, disse Guterres, acrescentando que “o risco que a Cisjordânia ocupada se transforme em uma outra Gaza deixa a situação ainda pior”.
O representante da ONU voltou a pedir pelo encerramento da guerra na região. “É tempo de colocar fim à desumanização, proteger civis, liberar os reféns, garantir ajuda humanitária e renovar o cessar-fogo”, reforçou Guterres.
Na última segunda-feira (07/04), ao lado do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que pretende transformar Gaza em “uma incrível e importante propriedade imobiliária” após remover a população local, declarou que o confronto no enclave “acabará em um futuro não muito distante”.
Crescente Vermelho pede investigação sobre paramédicos
Em nova declaração, também na última segunda-feira (07/04), o Crescente Vermelho Palestino (PCRS) denunciou um “crime de guerra completo” cometido por Israel contra os paramédicos de sua organização, da ONU e da Defesa Civil de Gaza, em 23 de março.
Segundo a organização humanitária, o ataque também “reflete um padrão perigoso de violações repetidas do Direito Internacional Humanitário”.
🚨الهلال الأحمر الفلسطيني يطالب بتحقيق دولي مستقل لمحاسبة المتورطين في جريمة استهداف طواقم الإسعاف في رفح
تؤكد جمعية الهلال الأحمر الفلسطيني أن استهداف قوات الاحتلال لموكب الإسعاف في منطقة الحشاشين بمدينة رفح بتاريخ 23 آذار/مارس يشكل جريمة حرب مكتملة الأركان، ويعكس نمطاً… pic.twitter.com/7muZQhbUPX
— PRCS (@PalestineRCS) April 7, 2025
Nomeando oito membros do Crescente Vermelho Palestino que foram mortos a tiros em Rafah: Mustafa Khafaja, Izz al-Din Sha’at, Saleh Ma’mar, Rifaat Ridwan, Muhammad Bahloul, Ashraf Abu Labda, Muhammad Al-Hila e Raed Al-Sharif, a organização lembra que o destino do paramédico Asaad Al-Nassasra “permanece desconhecido até agora”. “Exigimos que as autoridades de ocupação [Israel] revelem imediatamente seu paradeiro”.
O documento ressalta o vídeo que detalha o ataque israelense, publicado no último sábado (05/04). A gravação de 6 minutos e 43 segundos foi feita por um dos paramédicos mortos por Israel e concedido ao PCRS pela família da vítima.
UNRWA/X
“As imagens no vídeo documentado pelo colega paramédico mártir Rifaat Ridwan mostram [que] apesar da clara identificação dos veículos e das equipes, a comitiva foi atingida por uma chuva de balas por cerca de cinco minutos. No entanto, as chamadas registradas entre a equipe e o centro de comunicação provam que os disparos continuaram por pelo menos duas horas, com tiroteio ininterrupto até que a comunicação com um dos membros da equipe fosse cortada definitivamente”, revelou a entidade.
O Crescente Palestino instou que esse ataque “não foi aleatório ou um erro isolado”, mas sim “uma série de ataques intencionais”. “Começando com o tiroteio contra uma ambulância a caminho de resgatar feridos de um bombardeio em Al-Hashashin; seguido pelo ataque direto à comitiva de ambulâncias do Crescente Vermelho e da Defesa Civil, apesar de seguirem todos os protocolos de segurança; e, por fim, o ataque a uma quarta ambulância que tentava apoiar a equipe”, relata.
Em mais um argumento contra Tel Aviv, o PRCS afirma que a área onde os paramédicos foram atacados “não estava classificada como zona vermelha no momento da resposta, o que significa que não havia necessidade de coordenação prévia para entrada”.
“Veículos de ocupação não estavam presentes no local, como comprova o vídeo, que mostra a equipe circulando pela mesma rua por cerca de 15 minutos antes do ataque. Além disso, após o ataque à comitiva, uma viatura civil e um carro da UNRWA passaram pelo local cerca de uma hora depois, confirmando que a área não era uma zona de operações militares naquele momento”.
Falando sobre o estado em que os corpos dos paramédicos foram encontrados em 30 de março, o PRCS classifica o empilhamento em vala comum como “brutal e aviltante à dignidade humana”.
Ao pedir uma investigação internacional independente sobre o ataque, a entidade advertiu que “o silêncio internacional diante de ataques a agentes humanitários não só assina sentenças de morte para palestinos em Gaza, mas ameaça globalmente a ação humanitária”.
A revelação do vídeo com detalhes do ataque israelense contradiz a versão inicial de Tel Aviv, que defende “não ter atacado as ambulâncias aleatoriamente” e que os veículos estavam se movendo “sem luzes e sem sinais de emergência”.
Contudo, após a revelação da prova, o Exército de Israel (IDF) mudou sua narrativa e disse que seu relato anterior estava “equivocado”. No último domingo (06/04), o tenente-coronel israelense Nadav Shoshani disse que “pelo menos seis dos médicos estavam ligados ao Hamas”, mas não apresentou evidências. Já na segunda-feira (07/04), a autoridade declarou que o ataque ocorreu porque as forças israelenses “se sentiram ameaçadas”
Em meio às declarações, a IDF anunciou que iniciará uma “investigação completa” sobre o assassinato dos 15 paramédicos. “Todas as alegações, incluindo documentos publicados, serão examinadas cuidadosamente para entender como agir durante o incidente”, afirmou um relatório do exército veiculado pela Al Jazeera.
(*) Com Ansa, informações da Al Jazeera e do Guardian
Fonte: Opera Mundi