O grupo palestino Hamas declarou, nesta quarta-feira (16/04), que um eventual acordo de cessar-fogo com Israel na Faixa de Gaza “terá que incluir o fim permanente da guerra e a retirada das tropas de Tel Aviv” do enclave palestino.
As declarações de Khaled Qaddoumi, representante do movimento de resistência, ocorreram durante a análise da última proposta israelense para trégua, transmitida ao Hamas por meio dos mediadores Egito e Catar, na última segunda-feira (14/04).
O dirigente também declarou que “a palavra catástrofe não é suficiente para descrever a situação extremamente crítica em Gaza”, denunciando a cumplicidade de países do Ocidente que permitem o genocídio praticado por Israel.
Segundo a emissora catari Al Jazeera, o grupo está revisando o documento e responderá “o mais rápido possível”. O plano inclui um cessar-fogo nos combates por 45 dias, período no qual as travessias de fronteira seriam permitidas para a entrega de ajuda humanitária. Em troca, Tel Aviv receberia de volta metade dos reféns que ainda estão em Gaza já na primeira semana.
Nos termos israelenses, a proposta também prevê a redistribuição das Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) na Faixa de Gaza para áreas ocupadas antes de 2 de março e um compromisso de negociar uma segunda fase do cessar-fogo, de acordo com o que foi concordado em janeiro.
Essas negociações incluiriam discussões sobre um cessar-fogo permanente, a retirada militar israelense, o desarmamento do Hamas e a futura governança do enclave palestino.
Quando recebeu a proposta, o Hamas disse que estava pronto para libertar todos os reféns israelenses desde que fosse realizada também uma “troca séria de prisioneiros palestinos” e que Israel acabe com a guerra em Gaza.
Israel ameaça ajuda humanitária e permanência de tropas
Enquanto o Hamas analisa a proposta de cessar-fogo de Israel, as autoridades do país fazem declarações que não estão de acordo com o que foi sugerido no documento.
O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, declarou que seu país não permitirá a entrada de “nenhuma ajuda humanitária em Gaza” e que não há “nenhum preparativo para levar suprimentos” aos palestinos.
מדיניות ישראל בעזה, אותה מוביל הפיקוד הצה”לי בגיבוי הדרג המדיני, ברורה וחד משמעית:
בראש וראשונה עשיית כל מאמץ להביא לשחרור כלל החטופים במסגרת מתווה וויטקוף, ובניית גשר להכרעת החמאס בהמשך.
עצירת הסיוע ההומניטרי שפוגע בשליטת חמאס באוכלוסייה, ויצירת תשתית לחלוקה באמצעות חברות…
— ישראל כ”ץ Israel Katz (@Israel_katz) April 16, 2025
O político de extrema direita ainda afirmou que o bloqueio, instalado há mais de um mês, será usado como uma “forma de pressionar o Hamas”.
Katz ainda fez declarações sobre as tropas israelenses no enclave. Segundo o ministro do premiê Benjamin Netanyahu, as IDF permanecerão indefinidamente, mesmo após a guerra, dentro do que Israel qualificou como “zonas de segurança” em Gaza.
“Diferentemente do passado, as IDF não estão desocupando áreas que foram limpas e apreendidas. As tropas permanecerão nas zonas de segurança como uma barreira entre o inimigo e as comunidades em qualquer situação temporária ou permanente em Gaza – como no Líbano e na Síria”, escreveu em um comunicado, publicado na rede social X.
IDF/X
Já o ministro da Cultura de Netanyahu, Miki Zohar, reiterou a fala de Katz sobre a ajuda humanitária e acrescentou: “Os assassinos desprezíveis em Gaza não merecem nenhuma assistência humanitária de um mecanismo civil ou militar”.
לרוצחים המתועבים בעזה לא מגיע שום סיוע הומניטרי לא בידי מנגנון אזרחי ולא צבאי. רק אש תופת על מחוללי הטרור עד שאחרון האחים והאחיות שלנו בשבי, יחזרו הביתה לשלום.
— Miki Zohar מיקי זוהר (@zoharm7) April 16, 2025
Zohar pediu também “fogo infernal sobre os perpetradores do terrorismo até que os últimos dos nossos irmãos e irmãs em cativeiro retornem para casa em segurança”.
Diante da ameaça, Muhammad, chefe de um posto médico da UNRWA em Gaza, escreveu na rede social X que a “grave escassez de medicamentos, analgésicos e outros suprimentos médicos essenciais representa uma grave ameaça às vidas dos pacientes”.
“We make do with what we have, but the severe shortages of medicine, painkillers, and other essential medical supplies, pose a grave threat to the lives of our patients,” explains Dr Muhammad, Head of an UNRWA medical point in #Gaza.
The first picture shows Loretta, 2, who… pic.twitter.com/sh9k9ok8I2
— UNRWA (@UNRWA) April 16, 2025
Dissidência em Israel
Apesar das autoridades israelenses afirmarem sobre a continuação do genocídio, a situação interna no país é diferente. Familiares dos reféns que ainda estão em Gaza pressionam o governo Netanyahu por um acordo.
“Eles prometeram que os sequestrados viriam em primeiro lugar. Na prática, Israel está optando por tomar território em vez dos reféns”, declarou o Fórum de Prisioneiros de Reféns e Famílias Desaparecidas por meio de um comunicado, veiculado pela Al Jazeera.
Segundo a organização, o governo israelense precisa “acabar com as falsas promessas e slogans”. “É impossível continuar a guerra e, ao mesmo tempo, libertar todos os sequestrados”. Exigiram assim um acordo para que os cativos sejam libertos, “mesmo que isso custe o fim da guerra”.
A exigência também veio de Adi Alexander, pai de um refém israelense-americano, que questionou como Netanyahu pretende libertar os reféns sem acabar com a guerra: “para o primeiro-ministro [Netanyahu], a questão continua a mesma: como você planeja libertar o último refém sem acabar com esta guerra e sem se comprometer com a segunda fase deste acordo?”, questionou em entrevista à emissora norte-americana NewsNation.
Adi é pai de Edan Alexander, refém mantido com uma das equipes do Hamas com que a liderança da resistência perdeu contato após um bombardeio israelense atingir o local onde estava.
A insatisfação com a continuidade da guerra pelo governo israelense também vem de membros da segurança do país. Segundo relatou o jornal israelense Haaretz, mais de 200 policiais, incluindo chefes e comandantes, pediram o fim do conflito e o retorno dos reféns por meio de uma carta.
O periódico israelense informou ainda que o ex-chefe do Serviço Prisional de Israel, Aharon Franco, e o ex-comandante Danny Elgarat, cujo irmão Itzhak Elgarat foi morto em Gaza, assinaram a iniciativa.
A mais recente petição junta-se a uma série de outras emitidas nas últimas semanas, elevando a dissidência em Israel contra sua ofensiva em Gaza.
(*) Com Ansa e informações da Al Jazeera
Fonte: Opera Mundi