quarta-feira, abril 23, 2025

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Cientistas encontram sinais de vida em planeta distante


Uma equipe de astrônomos pode, finalmente, ter achado um sinal de vida no Espaço, significando que não estamos sozinhos. No caso, a possível evidência encontrada pelos pesquisadores vem de fora de nossa galáxia. Mais precisamente, o planeta em questão (que é massivo) é o K2-18b, localizado a 120 anos-luz da Terra e que orbita uma estrela.

A análise repetida dos especialistas acerca da atmosfera do exoplaneta aponta a possibilidade de haver certa molécula em abundância. Tal molécula, na Terra, só tem uma fonte conhecida: organismos vivos, tais como as algas marinhas.

Em coletiva de imprensa realizada nesta terça-feira (16), Nikku Madhusudhan, astrônomo da Universidade de Cambridge e um dos autores do estudo (publicado na The Astrophysical Journal Letters), ressaltou que não é hora de se precipitar. “Não é do interesse de ninguém afirmar prematuramente que detectamos vida”, frisou.

Madhusudhan disse ainda que a melhor explicação para o sinal detectado pelas observações é que o K2-18b pode estar coberto por um oceano quente e cheio de vida. “Este é um momento revolucionário. É a primeira vez que a humanidade vê bioassinaturas potenciais em um planeta habitável”, conclui o astrônomo.

Representação do James Webb
Representação artística do Telescópio Espacial James Webb (Imagem: olivier.laurent.photos/Shutterstock)

Como os especialistas identificaram o sinal de vida no planeta K2-18b?

  • Antes de mais nada, vale a pena explicar que o K2-18b, além de estar a 120 milhões de anos-luz de nós, é duas vezes e meia maior que a Terra;
  • Como lembra a BBC, essa foi a segunda vez que substâncias associadas à existência de vida foram detectadas no planeta;
  • Tanto o achado interior quanto o atual foram realizados pelo Telescópio Espacial James Webb (JWST, na sigla em inglês) da NASA. A nova descoberta, contudo, é mais promissora;
  • O Webb é poderoso o bastante para analisar a composição química da atmosfera de planetas por meio da luz que passa pela pequena estrela vermelha orbitada pelo K2-18b;
  • Madhusudhan também indicou que espera confirmar o sinal de vida obtido “dentro de um a dois anos“.

O K2-18b foi descoberto em 2017 por cientistas canadenses durante observação com telescópios terrestres localizados no Chile. Até então, era um planeta aparentemente comum, quando se fala dos que existem fora de nosso Sistema Solar.

É um planeta conhecido como sub-Netuno, sendo bem maiores que os planetas rochosos de nosso Sistema Solar, porém, são menores que Netuno e demais planetas dominados por gás fora de nosso Sistema Solar.

O grupo de Cambridge descobriu que a atmosfera parece conter a assinatura química de pelo menos uma de duas moléculas associadas à vida: dimetilsulfeto (DMS) e dimetil dissulfeto (DMDS). Na Terra, esses gases são produzidos por fitoplâncton marinho e bactérias.

O professor Madhusudhan disse que ficou surpreso com a quantidade de gás aparentemente detectada durante uma única janela de observação. “A quantidade que estimamos desse gás na atmosfera é milhares de vezes maior do que temos na Terra. Então, se a associação com a vida for real, esse planeta estará repleto de vida“, disse.

O professor foi além: “Se confirmarmos que há vida em K2-18b, isso basicamente confirmaria que a vida é muito comum na galáxia.”

Em 2021, Madhusudhan e seus colegas propuseram que os planetas sub-Netunos seriam cobertos por oceanos de água morna e envoltos em atmosferas ricas em hidrogênio, metano e outros compostos de carbono. Para descrever esses mundos peculiares, eles criaram o termo “Hiceano”, unindo as palavras “hidrogênio” e “oceano”.

Com o lançamento do JWST, em dezembro de 2021, os astrônomos ganharam visão muito mais detalhada de sub‑Netunos e outros exoplanetas distantes. Durante o trânsito de um planeta em frente à sua estrela, sua atmosfera filtra a luz estelar: cada gás absorve comprimentos de onda específicos e a análise dessas alterações espectrais permite inferir sua composição química.

Ao examinar o K2‑18b, Madhusudhan e sua equipe verificaram a presença de várias das moléculas que haviam previsto para um planeta hiceano. Em 2023, anunciaram, ainda, indícios tênues de sulfeto de dimetila (DMS), molécula essa de grande interesse.

No ano passado, numa segunda oportunidade de busca por DMS, eles usaram um instrumento diferente do Webb para analisar a luz que atravessava a atmosfera de K2‑18b. Desta vez, detectaram um sinal ainda mais intenso de sulfeto de dimetila, junto ao dissulfeto de dimetila (DMDS). “É um choque para o sistema”, disse Madhusudhan. “Passamos um tempo enorme só tentando nos livrar do sinal.”

Apesar de todas as tentativas de refinar as leituras, o sinal permaneceu firme. A equipe concluiu que o K2‑18b pode, de fato, abrigar enorme estoque de DMS em sua atmosferamilhares de vezes mais do que existe na Terra —, o que sugere que seus mares hiceanos estejam repletos de vida.

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Especialistas divergem

Mas não é só Madhusudhan quem prega cautela; outros especialistas também entendem que falta muito para que a descoberta seja efetivamente associada à vida. “Não é nada“, disse Stephen Schmidt, cientista planetário da Universidade Johns Hopkins, ao The New York Times. “É uma pista. Mas ainda não podemos concluir que seja habitável.”

Quem também joga um banho de água fria no feito do JWST é Christopher Glein, cientista planetário do Southwest Research Institute em San Antonio, Texas (EUA). “A menos que vejamos ETs nos acenando, não será uma prova cabal“, apontou.

“Existem diversos ‘se’ e ‘mas’ nesta fase, como reconhece a equipe de Madhusudhan. Primeiramente, essa detecção ainda não atingiu a precisão necessária para ser considerada uma descoberta formal.” Há muitos “se” e “mas” em jogo, como a equipe de Madhusudhan reconhece abertamente.

Antes de tudo, essa detecção recente ainda não atinge o patamar mínimo exigido para se tornar uma descoberta oficial. Para isso, os pesquisadores precisam atingir cerca de 99,99999% de confiança — o famoso critério de “cinco sigma”. Até agora, eles chegaram apenas a três sigma, ou seja, 99,7% de certeza: um número elevado, mas insuficiente para convencer a comunidade científica.

Ainda assim, esse resultado de três sigma supera em muito o de um sigma (68%) alcançado pelo grupo há 18 meses, o qual foi recebido com grande ceticismo.

Mas, mesmo que a equipe de Cambridge obtenha resultado de cinco sigma, isso não seria prova definitiva de vida no planeta, alerta a professora Catherine Heymans, da Universidade de Edimburgo e Astrônoma Real da Escócia, que não integra o grupo de pesquisa.

Mesmo com essa certeza, ainda há a questão da origem desse gás. Na Terra, ele é produzido por microrganismos nos oceanos, mas mesmo com dados perfeitos não podemos afirmar com certeza que essa origem é biológica em um mundo alienígena — porque coisas muito estranhas acontecem no Universo e não sabemos que outro tipo de atividade geológica poderia estar ocorrendo nesse planeta e que também poderia produzir essas moléculas.

Catherine Heymans, professora da Universidade de Edimburgo e Astrônoma Real da Escócia, à BBC

Essa cautela é partilhada pelo próprio time de Cambridge, que já colabora com outros laboratórios para testar, em condições de laboratório, se o DMS e DMDS podem surgir por vias não biológicas. Outros grupos apresentaram explicações alternativas — inteiramente abióticas — para os sinais observados em K2‑18b.

Existe ainda intenso debate sobre a composição do exoplaneta. A ausência de amônia em sua atmosfera levou muitos a inferirem a presença de vasto oceano líquido, já que esse composto seria absorvido por grandes massas d’água. Mas, como ressalta o professor Oliver Shorttle, da Universidade de Cambridge, isso também poderia ser explicado por um oceano de rocha derretida, o que excluiria a hipótese de vida.

“Tudo o que sabemos sobre planetas que orbitam outras estrelas vem de minúsculas quantidades de luz que passam por suas atmosferas. Então, é um sinal extremamente tênue que temos que interpretar — não só em busca de vida, mas de tudo”, explicou ele. “No caso de K2‑18b, parte do debate científico ainda gira em torno da própria estrutura do planeta.”

Para complicar ainda mais, o pesquisador Nicolas Wogan, do Centro de Pesquisa Ames da NASA, propõe, em seu estudo, que o K2‑18b é, na verdade, um mini‑gigante gasoso sem superfície sólida. Essas interpretações alternativas, por sua vez, foram contestadas por equipes que defendem que elas não condizem com os dados do telescópio James Webb — evidência de como o debate está acirrado.

O professor Madhusudhan reconhece que há “enorme montanha científica” a ser escalada antes de responder uma das maiores questões da humanidade, mas mantém otimismo quanto ao progresso de seu grupo.

“Daqui a algumas décadas, podemos olhar para esse momento e reconhecer que foi quando o Universo vivo se tornou algo ao nosso alcance. Este pode ser o ponto de virada, em que, de repente, a pergunta fundamental — estamos sozinhos no Universo?é algo que nos tornamos capazes de responder”, prosseguiu.

Vários outros pesquisadores enfatizam que ainda há um longo caminho a percorrer. Uma das questões pendentes é se o K2‑18b é realmente um mundo hiceano habitável, conforme sustenta a equipe do Dr. Madhusudhan.

Em artigo publicado online no domingo (13), Glein e seus colegas propuseram que o K2‑18b poderia ser simplesmente uma gigantesca rocha com um oceano de magma e uma atmosfera densa e escaldante de hidrogênio — condições que, dificilmente, permitiriam vida semelhante à nossa.

Também será necessário realizar experimentos de laboratório para contextualizar esses achados — recriando, por exemplo, as possíveis condições em sub‑Netunos e avaliando se o sulfeto de dimetila se comportaria ali do mesmo modo que na Terra.

“É importante lembrar que estamos apenas começando a entender a natureza desses mundos exóticos”, observou Matthew Nixon, cientista planetário da Universidade de Maryland, que não participou diretamente do estudo, à BBC.

Algas marinhas
Algas marinhas são um dos poucos seres vivos terrestres que possuem o mesmo composto químico encontrado no K2-18b (Imagem: AnnaKa Ka/Shutterstock)

Os pesquisadores preferem aguardar o que o Webb ainda pode revelar sobre K2‑18b, já que descobertas iniciais muitas vezes se dissipam com dados adicionais.

A NASA já está projetando e construindo telescópios espaciais ainda mais potentes, voltados especificamente à busca por sinais de habitabilidade em exoplanetas como K2‑18b. Mesmo que demore anos para desvendar o que se passa em K2‑18b, os cientistas acreditam que o esforço valerá a pena.

“Não estou gritando ‘alienígenas!’”, afirmou Nikole Lewis, cientista exoplanetária da Universidade Cornell. “Mas sempre me reservo o direito de gritar ‘alienígenas!’”

Entretanto, Joshua Krissansen‑Totton, astrobiólogo da Universidade de Washington, expressou preocupação de que os astrobiólogos americanos não consigam dar continuidade aos últimos resultados sobre o K2‑18b.

O governo Trump estaria planejando cortar o orçamento científico da NASA pela metade, eliminando futuros projetos de telescópios espaciais e outras iniciativas de astrobiologia. Se isso ocorrer, alertou a Dra. Krissansen‑Totton, “a busca por vida em outros lugares basicamente cessaria”.




Fonte: Olhar Digital

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