sexta-feira, abril 25, 2025

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A ‘Coalizão dos Dispostos’ a prolongar a guerra


O site da OTAN anuncia, para 10 de abril, uma reunião dos ministros da defesa da Coalition of the Willing [Coalizão dos dispostos]. Essa coalizão nasceu em fevereiro com uma primeira reunião de líderes, mas foi oficialmente anunciada em 02 de março. Minha primeira reação, frente ao anúncio feito pelo primeiro-ministro inglês, foi duvidar do meu vocabulário em língua inglesa. “Coalizão dos dispostos? Dispostos a quê? Não tinham um nome melhor para dar?” 

A falta de imaginação lexical e semântica não é minha, afinal, mas dos líderes europeus. Estes mesmos que amargam ampla oposição interna e aferram-se ao retorno de uma espécie de keynesianismo de guerra como boia de salvação para a decadência de sua indústria e de seus níveis de emprego. Artigo de Hugo Albuquerque reflete que talvez fosse melhor chamarmos de “neoliberalismo militar”, já que destinam ao esforço de guerra recursos que vêm sendo negados à área social. 

Um operador da Força Aérea da Bélgica manobra um Airbus A-330 para abastecer um F-35 da Força Aérea da Holanda. (Foto: NATO)
Um operador da Força Aérea da Bélgica manobra um Airbus A-330 para abastecer um F-35 da Força Aérea da Holanda.
(Foto: NATO)

Como já mencionamos, a coalizão dos dispostos começou a ser arquitetada em 17 de fevereiro, quando o presidente da França, Emmanuel Macron, convocou uma reunião de líderes em resposta ao telefonema de Trump a Putin. A tarefa de manter a unidade europeia (leia-se a parte da Europa organizada na OTAN) ganhou extrema urgência desde o deslocamento dos EUA da estratégia conjunta de manter e intensificar a guerra em solo ucraniano, com vistas a desgastar e enfraquecer a Rússia, independentemente dos custos humanos impostos à Ucrânia. O movimento unilateral de Trump de negociar a paz com o Kremlin em termos definidos bilateralmente abandona o restante dos membros da OTAN à própria sorte, e gerou profunda insatisfação dos atuais mandatários. 





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Em 2 de março, logo após o vexame de Volodymyr Zelenskyy no Salão Oval da Casa Branca, o primeiro-ministro inglês Keir Starmer organizou uma segunda reunião de líderes em Londres, com uma lista maior de participantes. Foi ao final desse encontro que Starmer anunciou o nascimento da “Coalizão dos Dispostos”, coordenada por Grã-Bretanha e França. Na semana passada, em Paris, os “dispostos” participantes foram, além de Macron, Starmer e Zelenskyy, os líderes da Bélgica, Bulgária, Croácia, Chipre, República Tcheca, Dinamarca, Estônia, Finlândia, Alemanha, Grécia, Islândia, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Holanda, Noruega, Polônia, Portugal, Romênia, Eslovênia, Espanha e Suécia. Também a Turquia enviou um participante, mas não seu líder máximo, o vice-presidente Cevdet Yilmaz. Austrália e Canadá também enviaram seus embaixadores na França para acompanhar a reunião. A União Europeia se fez representar com Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, e António Costa, presidente do Conselho Europeu. O secretário geral da OTAN, Mark Rutte, também esteve presente.

Apesar da presença da União Europeia, alguns países que são parte da UE não participam da aliança dos contentes – perdoem o lapso, a aliança dos dispostos –: Hungria e Eslováquia, por serem contrárias ao envio de militares à Ucrânia, e Malta e Áustria, por considerarem-se neutras. 

A proposta da Coalizão dos Dispostos é, em primeiro lugar, manter o “apoio contínuo” ao exército ucraniano. Além disso, propõe-se criar uma força de segurança europeia (“ocidental”, no palavreado oficial) que poderá ser enviada para solo ucraniano. Segundo Macron, essa força militar não realizaria uma operação de manutenção da paz – tarefa que ele atribui às forças das Nações Unidas, os conhecidos capacetes azuis. Se não vai realizar operações de manutenção da paz, o que irá fazer esse efetivo europeu? Eufemisticamente, Macron diz que a força irá ser “implantada em certos locais estratégicos” para servir como “força de dissuasão” contra a Rússia. Em palavras mais diretas, sem eufemismos, o que o grupo de dispostos anuncia é uma força de combate, para dar prosseguimento à guerra. Como “nada está excluído nesse momento”, segundo Macron, essa nova coalizão militar não poderia estar sendo pensada para, além de manter a guerra, levá-la para dentro das fronteiras russas?

Essa conjectura faz todo sentido quando se olha para a terceira meta do grupo dos dispostos: aumentar as capacidades de defesa da Europa, a partir do plano apresentado pela comissão europeia de mobilizar até 800 bilhões de euros nos próximos anos para investimentos em defesa. De onde virá esse dinheiro todo, já que os europeus hoje dizem-se incapazes de aumentar seus investimentos sociais por falta de recursos? Do sistema financeiro europeu, o maior beneficiário direto desse “keynesianismo de guerra”, ou neoliberalismo de guerra, como já foi melhor dito. 

Seja como for, a estratégia dos grandes países da Europa para a guerra da Ucrânia não é buscar a paz, mas formas de prolongar o sofrimento do povo ucraniano, estendendo a guerra pelo tempo suficiente para que os gastos militares tenham o efeito de salvar a combalida economia do velho continente.

(*) Rita Coitinho é socióloga e doutora em Geografia, autora do livro “Entre Duas Américas – EUA ou América Latina?”, especialista em assuntos da integração latino-americana.



Fonte: Opera Mundi

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