A guerra comercial de Donald Trump beneficiará o Brasil, já que o país tem oportunidade de ocupar o espaço deixado pela potência mundial no comércio de grãos e carnes para os mercados chinês e europeu. É o que afirmam os analistas ouvidos pelo Financial Times.
Reportagem de Susannah Savage, Michael Pooler, Beatriz Langella e Joe Leahy, publicada segunda-feira (13/04), fala que o Brasil foi o “grande vencedor” neste embate econômico de Trump contra a China, expandindo “drasticamente sua então estreita vantagem sobre os EUA como maior fornecedor de alimentos para Pequim”.
Neste primeiro trimestre, as vendas de carne bovina para os chineses avançaram um terço do volume vendido no ano passado, enquanto as exportações de aves aumentaram 19% em março comparado com as vendas do mês em 2024.
Também destacam-se as importações da soja brasileira pela China, que teve um acréscimo de US$ 1,15 em relação à contrapartida estadunidense nos mercados globais. Segundo o diretor internacional do Grupo Minas Portuário do Brasil, Rodrigo Alvim, “a China está se movimentando rapidamente para garantir o fornecimento não só de soja, mas também de outras commodities” do Brasil.
Responsável, até então, por 90% das exportações de sorgo dos Estados Unidos, e cerca de metade das exportações de soja daquele país, em janeiro deste ano, a China recuou suas importações em 54% em comparação com mesmo período no ano passado. Em carta aberta, a Associação Americana de Soja implorou a Trump por um acordo com os chineses.
Eles também bloquearam US$ 1,6 bilhão em importações de carne bovina dos Estados Unidos; e limitaram os embarques de soja, trigo, milho ou sorgo, segundo uma fonte anônima ouvida pelo Financial Times. “Se a situação continuar, os embarques de grãos podem chegar a zero até maio”, ela afirmou.
Arquivo Agência Brasil
“Benção para os agricultores brasileiros”
A guerra comercial foi considerada “uma benção para os agricultores do Brasil e da Argentina”, apontou o analista-chefe do setor da Kpler, Ishan Bhanu. Segundo ele, o país “tem a agradecer a Trump, pelo menos em parte, por ajudá-lo a formar exportadores capazes de preencher o vazio deixado pelos Estados Unidos”.
A participação norte-americana nas importações do setor alimentício chinês despencou de 20,7% em 2016 para 13,5% em 2023, aponta o jornal britânico. No mesmo período, a procura chinesa por alimentos brasileiros cresceu de 17,2% para 25,2%.
A procura não se restringe ao imenso mercado consumidor da China. A União Europeia também está interessada nos produtos brasileiros.
O bloco está prestes a aplicar taxas retaliatórias de 25% sobre a soja, carne bovina e aves dos Estados Unidos, o que abre a possibilidade aos europeus de substituir, entre outros produtos, a proteína para ração animal norte-americana pela brasileira.
A preocupação agora, aponta a reportagem, é o Brasil não ter produção suficiente para atender à demanda dos chineses e dos europeus. Segundo Jim Sutter, presidente-executivo do Conselho de Exportação de Soja dos EUA, se tanto a China quanto a União Europeia concentrarem o seu abastecimento no Brasil, a grande oferta do país “será rapidamente absorvida”.
Fonte: Opera Mundi