O Ministério do Comércio da China anunciou nesta quarta-feira (09/04) que irá cobrar tarifas adicionais de 50% sobre as importações dos Estados Unidos, elevando a taxação dos produtos norte-americanos a 84%.
A retaliação chinesa contra os 104% anunciados por Donald Trump, foi acompanhada pela divulgação de um documento intitulado “Posição da China sobre algumas questões relativas às relações econômicas e comerciais entre China e EUA“.
“A história nos diz que a cooperação entre a China e os Estados Unidos é de grande benefício mútuo, enquanto o confronto não trará nada além de danos para ambos os lados. O fortalecimento da cooperação China-EUA está de acordo com as expectativas de todo o mundo. A economia global pode obter um crescimento mais rápido se os mercados globais forem justos, abertos, transparentes e baseados em regras, o que não pode ser alcançado sem a cooperação China-EUA”, diz o tetxo.
Divulgado pelo Gabinete de Informação do Conselho de Estado da China, o documento traz dados sobre as relações econômicas e comerciais entre China-EUA, com um contundente alerta sobre as consequências da guerra comercial de Trump contra o país. O livro branco chinês alerta sobre as consequências da guerra tarifária, iniciada na última quarta-feira (02/04), e responde, uma a uma, as acusações de Washington.
Trata-se de uma histórica defesa da soberania chinesa, uma reafirmação dos princípios da Organização Mundial do Comércio (OMC) e uma crítica à natureza “isolacionista e coercitiva da conduta dos EUA” que “vão contra os princípios da economia de mercado e do multilateralismo e terão sérias repercussões nas relações econômicas e comerciais na relação entre os dois países”.
Consequências da guerra comercial
O governo dos EUA anunciou a imposição de “tarifas recíprocas” de 34% sobre as mercadorias chinesas e, frente à reação da China, que passou também a cobrar 34% sobre as mercadorias norte-americanas, agora anunciou uma tarifa adicional de 50%, que somada a outras taxas, pode chegar a 104% contra o país.
Pequim alerta que além de se tratar de “uma grave violação das regras da OMC, que prejudica o sistema de comércio multilateral e corrói os direitos e interesses legítimos das partes afetadas”, a medida “não ajudará a resolver os problemas econômicos domésticos nos EUA, mas acabará saindo pela culatra e tornando os EUA vítimas de seus próprios crimes“.
Segundo a China, as tarifas aumentarão a pressão inflacionária nos EUA. Afirmação feita com base num estudo do Laboratório de Orçamento da Universidade de Yale que prevê um aumento de 2,1% no Índice de Preços de Despesas de Consumo Pessoal (PCE) do país, custando às famílias norte-americanas de baixa, média e alta renda, como o “pagador” final das tarifas, uma média de US$ 1.300, US$ 2.100, US$ 5.400 por família, respectivamente.
O texto aponta ainda que as medidas “enfraquecerão a base industrial dos EUA”, afetando “gradualmente a cadeia industrial e a cadeia de suprimentos, agravarão o risco de interrupção da cadeia de suprimentos e esvaziamento industrial e aumentarão os problemas que impedem o desenvolvimento da manufatura” no país.
Pesquisa do Peterson Institute for International Economics, citada no texto, avaliou “que mais de 90% dos custos tarifários serão arcados pelos importadores dos EUA, pelas empresas a jusante e, em última análise, por meio de preços mais altos, pelos consumidores finais”.
Recessão econômica
Outra consequência é o agravamento do pânico no mercado financeiro. “No dia seguinte ao anúncio das tarifas, os três principais índices de ações dos EUA caíram mais de 5%. Enquanto isso, o dólar norte-americano caiu fortemente em relação ao euro, demonstrando a crescente preocupação do mercado com a perturbação da economia e o impacto drástico na confiança”, diz o documento.
Outro alerta chinês é de que as tarifas aumentarão o risco de recessão econômica nos EUA, conforme as previsões do JPMorgan, Goldman Sachs e outras instituições financeiras, levando a uma “redução do PIB real dos EUA em aproximadamente 1 ponto percentual”.
Ao mesmo tempo, “as tarifas distorcerão a alocação de recursos do mercado global, minarão as bases da cooperação global e afetarão o crescimento constante de longo prazo da economia global”. Elas “minarão a estabilidade das cadeias industriais e de suprimentos globais e desferirão um duro golpe nas circulações econômicas internacionais”.
“A história ensinou repetidamente a lição de que o protecionismo comercial não ajudará a fortalecer a economia doméstica de um país. Em vez disso, causará graves danos ao comércio e ao investimento mundiais, o que poderá desencadear uma crise económica e financeira global, com as inevitáveis consequências para si e para os outros”, reiterou o governo chinês.
Wilson Dias ABR
Violações à OMC
A China também elenca uma série de violações cometidas pelos Estados Unidos na OMC, apontando que a rescisão do status de Relações Comerciais Normais Permanentes (PNTR) da China mina a base das relações econômicas e comerciais China-EUA
O documento afirma que a revogação do status de Nação Mais Favorecida (NMF) da China viola as regras da OMC, prejudica as relações econômicas e comerciais China-EUA e desestabiliza a ordem econômica global. “A China se opõe a quaisquer atos unilateralistas e protecionistas que sabotem o sistema multilateral de comércio”, afirma.
Para Pequim, os EUA reprimem outros países em nome da segurança nacional e dos direitos humanos, lembrando que, desde 2022, Washington atualizou seus controles de exportação nos setores de semicondutores e IA da China em várias instâncias sob o pretexto de segurança nacional, expandindo as restrições de circuitos integrados para fabricação, terceirização e software.
Comércio entre os países
Em 2024, o volume de comércio de mercadorias entre a China e os EUA atingiu US$ 688,28 bilhões, o que foi 275 vezes o volume do comércio em 1979, quando as relações diplomáticas foram estabelecidas entre os dois países, e mais de oito vezes o volume do comércio em 2001, quando a China ingressou a organização comercial.
Atualmente, os EUA são o maior destino de exportação de mercadorias da China e a segunda maior fonte de importações. Em 2024, as exportações chinesas para o país e as importações dos EUA representaram 14,7% e 6,3% do total das exportações e importações da China no ano.
A China é também o terceiro maior destino de exportação dos EUA e a segunda maior fonte de importações. Em 2024, as exportações dos EUA para a China e as importações da China representaram 7,0% e 13,8% do total das exportações e importações dos EUA no ano, respectivamente.
De acordo com estatísticas da ONU, em 2024, as exportações de bens dos EUA para a China atingiram US$ 143,55 bilhões, representando um aumento de 648,4% em relação aos US$ 19,18 bilhões em 2001.
A China é o maior mercado de exportação de soja e algodão dos EUA, o segundo maior mercado de exportação de circuitos integrados e carvão e o terceiro maior mercado de exportação de dispositivos médicos, gás liquefeito de petróleo e automóveis, lembra o texto.
As empresas chinesas estabeleceram mais de 5.100 empresas estrangeiras nos EUA, com mais de 85.000 funcionários locais. Dados do USDOC em agosto de 2024 mostram que, em 2022, havia um total de 1.961 empresas americanas operando na China, com vendas totais combinadas de US$ 490,52 bilhões, um aumento de 4,3% ano a ano.
Negociações
Apesar disso, ” desde o início do atrito comercial entre a China e os EUA em 2018, os EUA impôs tarifas sobre as exportações chinesas no valor de mais de US$ 500 bilhões. Além disso, implementou continuamente políticas destinadas a conter e suprimir a China”, acusa o documento.
“As guerras comerciais não produzem vencedores e o protecionismo leva a um beco sem saída. O sucesso econômico da China e dos EUA apresenta oportunidades compartilhadas em vez de ameaças mútuas”, aponta o texto.
“Espera-se que o lado dos EUA una forças com o lado chinês para puxar na mesma direção apontada pelos dois chefes de Estado em sua conversa telefônica no início deste ano”, afirma o governo chinês.
“Seguindo os princípios de respeito mútuo, coexistência pacífica e cooperação ganha-ganha, os dois países podem abordar suas respectivas preocupações por meio de diálogo e consulta em pé de igualdade e promover conjuntamente o desenvolvimento saudável, estável e sustentável das relações econômicas e comerciais bilaterais”, complementa.
Fonte: Opera Mundi