Veículos trafegam em viaduto na Zona Centro-Sul de Manaus (Ricardo Oliveira/CENARIUM)
08 de abril de 2025
Ana Pastana – Da Cenarium
MANAUS (AM) – Dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-AM) apontam que a frota de veículos só em Manaus se aproxima da marca de 1 milhão, com mais de 990 mil, até março deste ano. Especialistas ouvidos pela CENARIUM alertam sobre soluções para minimizar o impacto de um possível “caos urbano”.
Com uma circulação diária de cerca de 52 mil veículos, de acordo com o órgão, a frota de veículos automotores aumentou mais de 5,56% em comparação ao ano passado. Para o diretor de Engenharia do Instituto Municipal de Mobilidade Urbana (IMMU), engenheiro Uarodi Pereira Guedes, especialista em gestão da mobilidade urbana, os órgãos responsáveis devem priorizar o transporte público como uma das soluções para desafogar o trânsito da cidade.
“As cidades devem adotar um conjunto de ações para mitigar os problemas decorrentes do crescimento da frota como: priorizar o transporte público; incentivar o transporte não motorizado; melhorar a infraestrutura viária com alargamento de vias, construção de pontes e viadutos, novas vias de ligação Norte-Sul, Leste-Oeste; investir em novas tecnologias para fiscalização de trânsito; investir em programas, projetos e campanhas de educação para o trânsito“, afirma.
Entre os principais veículos, de acordo com o Detran-AM, somente na capital, há 591.939 automóveis, 335.123 motocicletas, 44.042 caminhões e 23.129 ônibus. Guedes descarta soluções como rodízio de veículos, como acontece em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, que têm como objetivo reduzir o número de carros nas ruas. “Quanto ao rodízio não sou muito favorável, uma vez que, implantado a restrição, isso pode Incentivar a aquisição de outro veículo para trafegar nos dias de rodízio“, disse.
O especialista em Mobilidade Urbana Manoel Paiva reforça que a solução para minimizar o impacto do fluxo intenso em ruas e avenidas de Manaus é priorizar a qualidade do transporte coletivo da cidade, além de investir em infraestrutura adequada para que a população tenha outras opções de locomoção e segurança no trânsito.
“Estamos vivendo o princípio do caos urbano. Não temos dúvida nenhuma de que a solução para esse grave problema, que convivemos a cada ano, vai piorar, caso os gestores não se proponham a rever o confuso sistema atual de mobilidade e priorizar o transporte coletivo das pessoas que moram na periferia, melhorar as condições de caminhabilidade dos pedestres, implantar melhorias aos ciclistas e intensificar a operação do sistema viário, fiscalizando as vias para evitar que tanta gente morra no trânsito todo dia”, ressalta o especialista.
De acordo com Paiva, pouco mais da metade da população de Manaus conta com menos de 5% da frota de transporte coletivo disponível em horário de pico. “Hoje, em Manaus, 55% da população tem, ao seu dispor, apenas 2% da frota de transporte coletivo para utilizar nos horários de pico. Enquanto isso, 93% da frota individual de passageiros registrada em Manaus [automóveis e motocicletas] atende 40% da população da cidade“, destaca.
Autuações
Em 2024, o IMMU emitiu 400 mil autuações. O órgão também registrou um aumento de 21% no número de mortes por acidentes de trânsito, o equivale a 309 pessoas que perderam a vida, sendo 158 motociclistas. O número é o maior registrado em 24 anos.
Para o especialista, o aumento de acidentes é um reflexo da qualidade dos transportes disponíveis para a população da cidade. “Vale a pena investigar a origem da demanda que leva uma pessoa a preferir ocupar a garupa da moto junto a um estranho, pagar mais que uma tarifa de ônibus, e ainda enfrentar o trânsito pesado num veículo relativamente inseguro“, afirma Paiva.
Impacto
Anteriormente, a capital amazonense, assim como nas grandes cidades, registrava um tráfego intenso em horários de pico, normalmente às 7h e às 17h. De acordo com o motorista por aplicativo Gustavo César, que lida diariamente com o trânsito da cidade, o engarrafamento não é mais especifico somente nesses horários.
“Agora, em qualquer horário que você saia, você se depara com alguma avenida ou rua parada [engarrafada]. Até as ruas paralelas, que a gente utiliza para fugir do trânsito, também já não ajudam mais, porque as outras pessoas também querem cortar caminho e acaba sobrecarregando as [ruas] paralelas“, afirma à CENARIUM.
A jornalista Maria Eduarda Furtado, que mora na Zona Norte da cidade e trabalha na Zona Centro-Sul, é usuária do transporte coletivo municipal. À reportagem, ela conta que precisa sair de casa por volta das 12h para conseguir chegar ao destino às 14h.
“Eu saio 12h para chegar 14h, pego um ônibus até o terminal, que fica a 6 minutos da minha casa, mas o trajeto acaba demorando 20 [minutos] por conta da quantidade de carros. No terminal eu pego um ônibus que me deixa a cerca de 1 quilômetro do trabalho. Se eu quiser ficar mais perto [do trabalho], em dias de chuva, por exemplo, eu tenho que sair 11h da manhã de casa, pra poder chegar 14h“, informou.
A CENARIUM entrou em contato com o Immu para solicitar informações de ações de fiscalizações e medidas para melhorar a fluidez do trânsito na capital. Até o fechamento dessa reportagem, não houve retorno.
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Editado por Adrisa De Góes
Fonte: Revista Cenarium