Em meio aos conflitos regionais no Congo, iniciados em janeiro quando o grupo rebelde M23 invadiu parte do território em janeiro passado, tomando as cidades de Goma, capital de província de Kivu do Norte, e Bukavu, capital da província de Kivu do Sul, os cidadãos congoleses foram forçados a deixar campos de refúgio das respectivas localidades e retornar às suas terras natais.
Uma reportagem publicada pelo jornal britânico The Guardian nesta quarta-feira (02/04) informou que mais de 100 mil habitantes chegaram a abandonar um centro humanitário em Goma, que abrigava centenas de milhares de deslocados em decorrência dos combates anteriores na região. De acordo com as Nações Unidas (ONU), em fevereiro, o M23, por suspeita de infiltração de grupos armados rivais, havia dado um ultimato de 72 horas para que os deslocados largassem os campos.
No início de fevereiro, mais de 42 mil pessoas que saíram de Goma foram registradas no território de Masisi. Já na cidade de Sake, que foi palco de combates em janeiro e mais de mil casas foram destruídas, segundo Batachoka Douglas, uma autoridade local, “ex-moradores que foram forçados a retornar fundaram uma cidade fantasma, com casas destruídas ou vandalizadas”, revelou o veículo.
O The Guardian ouviu moradores de Sake, que relataram escassez de ajuda humanitária. À reportagem, Furaha Pendano, de 53 anos, revelou que, junto com seu marido, improvisaram uma barraca para abrigar seus sete filhos no local de sua antiga casa. Porém, sem acesso a recursos básicos, como água potável e eletricidade.
Em um dos relatos, uma ex-moradora que teve seu marido morto nos combates encontrou sua residência destruída. Kahindo Batachoka, de 38 anos, que ficou dois anos no campo de Bulengo, em Goma, disse que sua vida se tornou mais difícil desde que voltou a Sake, pois não conseguia mais encontrar trabalho nos campos próximos para sustentar a família. “Levamos uma vida abjeta”, afirmou.
Já Gaspard Bulenda, de 38 anos, que voltou para sua cidade natal depois de dois anos no campo de Lushagala, relatou que perdeu tudo.
“Fomos despojados do que tínhamos como bens materiais e financeiros durante a guerra. Nossos filhos não estudam mais”, contou à reportagem.
De acordo com Batachoka, os habitantes de Sake costumavam dependiam da agricultura local. Porém, devido aos combates, a área carece de recursos financeiros e materiais que possam permitir a retomada dos trabalhos.
“Eles não têm mais sementes, suas casas foram incendiadas ou destruídas durante os combates e as pessoas não têm meios de reconstruir suas casas. Muitas mulheres estão dando à luz no chão”, afirmou a autoridade local.
A cidade de Sake fica localizada a 24 quilômetros de Goma, capital congolesa de Kivu do Norte
Invasão patrocinada por Ruanda
O conflito no Congo teve início em janeiro, quando o M23 tomou as cidades de Goma, capital de província de Kivu do Norte, e Bukavu, capital da província de Kivu do Sul.
O M23 é um dos mais de 100 grupos armados que formam parte da chamada Aliança do Rio do Congo (CRA, por sua sigla em inglês) e que lutam contra o exército congolês, com o apoio financeiro, logístico e bélico entregue pelo governo de Ruanda, além do envio de tropas do país para participar de ações conjuntas no território vizinho.
Por sua parte, o governo da República Democrática do Congo diz que Ruanda patrocina grupos milicianos da região com o objetivo de se apropriar das riquezas minerais da região.
De acordo com agências da Organização das Nações Unidas (ONU) que atuam no continente africano, a invasão do M23 às províncias do leste da República Democrática do Congo provocou mais de sete mil mortes, somente entre janeiro e fevereiro deste ano, incluindo um massacre no qual 163 mulheres foram queimadas vivas, além do deslocamento massivo de mais de sete milhões de pessoas.
Fonte: Opera Mundi