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COP30: Brasil aposta em ‘mutirão’ para driblar desafios financeiros


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Por Lucas Rocha

A menos de seis meses para a COP30, o Brasil segue na expectativa de fazer com que a conferência ambiental de Belém traga avanços reais. O principal desafio para transformar o evento em uma “COP da Implementação”, mote do governo brasileiro, é o financiamento — um problema ainda mais complexo desde o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. Para especialista ouvida pelo ICL Notícias, o governo tenta driblar esses desafios com uma espécie de “mutirão” ambientalista.

“A questão financeira é uma dificuldade desde a Rio 92”, afirmou o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, nesta terça-feira (27) durante o II Fórum de Finanças Climáticas e de Natureza, no Rio de Janeiro. “Essa é uma questão que se arrasta e exige de nós novas dinâmicas e inovações. A transferência de recursos de países desenvolvidos para a transição energética nos países em desenvolvimento nunca se materializou”.

COP30

André Corrêa do Lago participou do II Fórum de Finanças Climáticas e de Natureza | Foto: Lucas Rocha/ICL Notícias

Diante desse cenário, a presidência brasileira tem se esforçado em buscar soluções inovadoras para angariar investimentos. Em entrevista ao ICL Notícias durante o Fórum, o chefe da Assessoria Especial de Economia do Ministério do Meio Ambiente, André Aquino, destacou a importância da inovação e da criatividade para mobilizar recursos. “Nós estamos na COP da implementação, a expectativa é a criação de meios de implementação para ações que já foram acordadas”, apontou.

Mais do que esforços financeiros, Mariana Rondon, diretora de programas da Plataforma Cipó, aponta que o Brasil inova ao mobilizar um verdadeiro “mutirão”, com a ampliação da participação de diferentes setores.

“A partir de uma conjuntura global desafiadora, marcada pela emergência climática, crescentes desigualdades, conflitos internacionais e retrocessos no compromisso climático de atores centrais como, por exemplo, os Estados Unidos, a presidência brasileira tem demonstrado sensibilidade política e buscado ampliar a participação e, consequentemente, a legitimidade do processo como um todo”, disse em entrevista ao ICL Notícias também durante o evento.

Fundo Florestas Tropicais Para Sempre

Aquino destaca que uma das grandes apostas do Brasil é a criação do Fundo Florestas Tropicais Para Sempre (TFFF, na sigla em inglês). O TFFF prevê cerca de US$ 4 bilhões anuais para cerca de 70 países com recursos de fundos soberanos ou da iniciativa privada.

“Esse fundo seria permanente, de longo prazo, com grande escala, para remunerar os países que mantêm as suas florestas tropicais. É uma forma de criar incentivos para a manutenção das florestas”, explicou.

“O Brasil tem uma meta de restaurar dois milhões de hectares até 2030. Isso é uma meta importante dentro da nossa NDC [Contribuição Nacionalmente Determinada] e para atingir essa meta nós precisamos da mobilização de bastante capital privado”, acrescentou Aquino.

Brasil em mutirão na COP

O conceito de ‘mutirão’ destacado por Rondon se deve ao fato da presidência brasileira ter “convocando diferentes segmentos da sociedade como, por exemplo, governos subnacionais e instituições financeiras” para dentro das discussões da COP.

“A nomeação de enviados e facilitadores para temas estratégicos, como financiamento climático, sociedade civil, adaptação e transição justa, reforça a capacidade da presidência brasileira de dialogar com múltiplos segmentos, especialmente em um cenário em que o negacionismo climático nos EUA fragiliza o multilateralismo e compromete avanços já alcançados”, explica.

A especialista destaca a criação dos Círculos de Liderança, que “têm o potencial de articular governos, sociedade civil, setor privado e instituições financeiras em torno de uma agenda de implementação, conectando as decisões formais no âmbito da conferência aos processos de transformação nos territórios”.

“A CIPÓ reconhece que transformar a COP30 na ‘COP da implementação’ exige diplomacia hábil, bem como capacidade de mobilização social em prol da agenda global climática. O Brasil, ao centrar sua presidência em um amplo processo de engajamento e convocação da sociedade e na mobilização de financiamento, potencializa a agenda de implementação, de ação”, reforçou.

Painel do II Fórum de Finanças Climáticas e de Natureza | Foto: Lucas Rocha/ICL Notícias

Roteiro de Baku a Belém

Um estudo divulgado durante a COP29, em Baku, apontou que seria necessário mobilizar cerca de US$ 1,3 trilhão até 2035 para garantir o financiamento a iniciativas efetivas de combate às mudanças climáticas. Até o fim da conferência anterior, os países haviam se comprometido a contribuir com apenas US$ 300 bilhões. O desafio, que já era grande, se tornou ainda maior com Trump retirando os EUA do Acordo de Paris. Diante disso, o Ministério da Fazenda elabora um “Roteiro Baku-Belém” que pretende apresentar os caminhos para captar os recursos trilionários.

Esse roteiro foi um dos temas centrais dos debates do II Fórum de Finanças Climáticas e de Natureza. Para Ilona Szabó, do Instituto Igarapé, um dos organizadores do fórum, esses desafios reforçam o papel dos bancos nacionais e multilaterais de desenvolvimento.

“Para efetivar uma transição verde e justa diante da emergência climática que a gente está vivendo, nós vamos precisar de muito mais recurso do que os governos têm. Os bancos  multilaterais e os bancos de desenvolvimento têm um potencial não só de aumentar o orçamento que dispõem, mas de trazer investidores que possam de fato fechar a conta para essas agendas”, avaliou em entrevista ao ICL Notícias

Segundo Szabó, os debates no fórum deixaram claro que existem recursos disponíveis e que existem soluções para enfrentar a crise climática. “A gente tem que criar mecanismos de governança e de criação de confiança pros recursos dos países desenvolvidos chegarem nos países em desenvolvimento, em especial em regiões críticas como a nossa Amazônia”, apontou.





Fonte: ICL Notícias

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