quinta-feira, maio 29, 2025

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Coronel acusado de integrar grupo armado exaltou ruptura militar e convocou golpe


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Por Cleber Lourenço

O coronel reformado do Exército Etevaldo Luiz Caçadini de Vargas, investigado pela Polícia Federal como suspeito de integrar o grupo clandestino Comando C4, publicou ao menos dois vídeos nas redes sociais nos quais incita militares a violar a hierarquia e agir contra as instituições democráticas. Alvo da Operação Sisamnes, Caçadini aparece nas gravações fazendo apelos explícitos para que as Forças Armadas deixem de cumprir seus regulamentos e assumam uma postura de confronto com os demais Poderes da República.

O conteúdo dos vídeos, somado ao histórico do militar e seu envolvimento com grupos de extrema direita, está sendo analisado pelas autoridades como parte de uma possível estratégia de articulação golpista. Em uma das gravações, publicada no perfil “Profissão PM” no Facebook em 6 de março de 2023, o coronel Caçadini aparece se dirigindo a um público que ele identifica como “patriotas”.

No vídeo, ele diz que a hierarquia e a disciplina são valores importantes apenas “em tempos normais” e que, diante do que chama de anormalidade institucional, esses princípios podem ser deixados de lado.

“O bem maior da nação fala mais alto”, afirma o coronel, em tom de alerta e convocação. Na sequência, ele critica a postura das Forças Armadas após a eleição presidencial de 2022, alegando que o Exército teria sido omisso e se acovardado diante da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva. “Os generais passaram pano”, diz, completando que há um descontentamento generalizado nas fileiras da ativa, com a estimativa de que “99,9999%” dos militares de patentes intermediárias estariam insatisfeitos.

Coronel teria participado de planos para 'eliminar' autoridades públicas

O segundo vídeo é uma entrevista concedida pelo coronel Caçadini ao canal Conexão Segurança, publicada em 9 de agosto de 2022, poucos meses antes das eleições. Nela, ele propõe três cenários possíveis para o futuro das Forças Armadas: uma fissura interna, uma fratura funcional ou um colapso total da hierarquia.

Com base em sua experiência como oficial, o coronel Caçadini diz que o comando intermediário — formado por coronéis e tenentes-coronéis — poderia assumir protagonismo e liderar uma reação interna diante do que ele considera uma crise institucional provocada pelo Judiciário e pelo Executivo.

Ele chega a comparar o momento com o surgimento do tenentismo na década de 1930 e sugere que novos levantes poderiam partir dessa mesma faixa de oficiais. A entrevista é recheada de expressões como “despertar da tropa” e “tomada de posição”, além de críticas severas à atuação do Supremo Tribunal Federal e ao sistema eleitoral.

As declarações são consideradas gravíssimas por investigadores da Polícia Federal, que veem nos vídeos um indício claro de tentativa de incitação à sublevação militar. O conteúdo passou a integrar o inquérito da Operação Sisamnes, que apura a existência de um grupo clandestino armado, conhecido como Comando C4.

De acordo com a investigação, o Comando C4 seria uma organização com estrutura paramilitar voltada a práticas como espionagem, atentados contra agentes públicos e tentativas de desestabilização institucional. A PF sustenta que o grupo operava com apoio financeiro e logístico de militares da reserva e civis influentes no meio da segurança privada, sob a fachada de empresas legalmente constituídas.

Coronel teria participado de planos para ‘eliminar’ autoridades públicas

Documentos apreendidos durante a operação mostram que Caçadini teria ajudado a financiar operações do Comando C4 e participado de reuniões em que se discutiram planos para eliminação de autoridades públicas, incluindo ministros do STF e parlamentares. Em um dos documentos, aparece uma tabela com valores atribuídos a diferentes tipos de alvos, incluindo “autoridades do Judiciário” e “lideranças políticas”.

As autoridades afirmam que coronel Caçadini atuava como articulador e elo entre os financiadores e os executores, fornecendo não apenas recursos, mas também conhecimento técnico e doutrinário extraído de sua formação militar e experiência em operações psicológicas. Além disso, ele é apontado como influente em círculos bolsonaristas e grupos extremistas da reserva militar, onde atuava como liderança informal.

A defesa do coronel reformado sustenta que suas declarações foram retiradas de contexto e que ele apenas exercia seu direito à liberdade de expressão. Os advogados alegam que os vídeos tratam de opiniões pessoais e que não há qualquer vínculo entre o conteúdo das gravações e ações criminosas efetivas. O Supremo Tribunal Federal, no entanto, já se manifestou em sentido contrário.

O ministro relator do inquérito, Cristiano Zanin, apontou que há “fortes elementos indiciários” de que o coronel Caçadini participou de articulações voltadas à ruptura da ordem democrática. Diante disso, sua prisão preventiva foi mantida, e ele permanece custodiado em unidade militar em Cuiabá, onde aguarda os próximos desdobramentos do processo, que corre sob sigilo.

Enquanto as investigações avançam, cresce o interesse de parlamentares e setores da sociedade civil por esclarecimentos públicos sobre o caso. A Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados cogita convocar autoridades da PF e do Ministério da Justiça para apresentar atualizações sobre o inquérito.

Já organizações ligadas à defesa da democracia alertam para o risco de que outros militares da reserva — ou mesmo da ativa — possam estar envolvidos em articulações semelhantes. Para investigadores, os vídeos de Caçadini não apenas revelam uma tentativa deliberada de incitar a tropa, como também se inserem em uma estratégia mais ampla de minar as instituições democráticas e justificar medidas de força sob o pretexto de atender ao “clamor popular”.





Fonte: ICL Notícias

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