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Por Cleber Lourenço
O coronel reformado do Exército Brasileiro Etevaldo Luiz Caçadini de Vargas, investigado por incitar militares contra a ordem constitucional durante os atos de 8 de janeiro de 2023, é apontado pela Polícia Federal como um dos fundadores e financiadores de uma estrutura clandestina chamada Comando C4, voltada a atividades de espionagem e assassinatos sob encomenda.
A operação Sisamnes, deflagrada pelo STF e pela PF em 2024 e 2025, revelou que o grupo mantinha uma tabela de valores para eliminar autoridades e contava com divisão interna de tarefas, arsenal próprio e planos de infiltração.
Antes de se tornar um dos alvos centrais da operação, Caçadini ocupou um cargo público: foi nomeado pelo governador Romeu Zema, em 1º de janeiro de 2019, como subsecretário de Integração de Segurança Pública do estado de Minas Gerais. Ele permaneceu no cargo durante parte da gestão e foi responsável por políticas de articulação entre forças policiais e o governo estadual.
Caçadini é acusado de incentivar a quebra da hierarquia militar após a eleição de Lula, incitando insubordinação por meio de redes sociais e grupos de WhatsApp bolsonaristas. Segundo a investigação, sua atuação se intensificou no final de 2022 e início de 2023, quando passou a organizar caravanas e panfletagens contra o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional. A PF considera que essas ações estão diretamente ligadas ao ambiente golpista que culminou nos ataques de 8 de janeiro.
A ligação do coronel com a estrutura criminosa ficou mais evidente após a execução do advogado Roberto Zampieri, morto a tiros em dezembro de 2023 em Cuiabá. Apuração da Delegacia de Homicídios de Mato Grosso identificou transferências bancárias feitas por Etenice Ballarotti Laurindo, esposa do fazendeiro Aníbal Laurindo, para Caçadini.
A defesa do fazendeiro afirma que os valores enviados via Pix tinham como finalidade custear atos pró-Bolsonaro, e não a contratação de execução. Ainda assim, a PF considera Caçadini como elo logístico entre os mandantes e os executores do crime.
O advogado Roberto Zampieri, morto a tiros em dezembro de 2023 em Cuiabá (Foto: Rede social)
Defesa de coronel alega ‘liberdade de expressão’
Durante buscas realizadas em endereço ligado ao coronel, a PF apreendeu documentos detalhando a estrutura do Comando C4, incluindo listas de alvos, valores e divisão de funções. Autoridades como ministros do STF, parlamentares e adversários políticos figuravam entre os nomes relacionados. O grupo operava sob fachada de empresa de segurança e usava inclusive mulheres e garotos de programa como iscas para monitorar autoridades.
Na tentativa de manter o caso na Justiça Militar, a defesa de Caçadini sustenta que sua conduta está protegida pela liberdade de expressão. No entanto, decisão judicial de outubro de 2024 transferiu a competência do caso ao STF, que trata todos os crimes vinculados ao 8 de janeiro como de sua alçada, sejam cometidos por civis ou militares.
Até o momento, três pessoas foram presas pela execução de Zampieri. O coronel reformado segue custodiado em unidade militar em Cuiabá e responde a processos que vão desde incitação à desordem à coautoria em organização criminosa armada. A PF segue investigando possíveis conexões do Comando C4 com outros agentes públicos e militares da ativa.
Fonte: ICL Notícias