A economia global caminha para seu crescimento mais fraco desde a recessão provocada pela pandemia de Covid-19, segundo relatório divulgado nesta terça-feira (3) pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). O principal fator por trás da desaceleração, segundo a entidade, é o recrudescimento das barreiras comerciais liderado pelos Estados Unidos, cuja economia deve ser uma das mais afetadas nos próximos anos.
Com sede em Paris, a OCDE revisou para baixo suas projeções para o PIB (Produto Interno Bruto) global, prevendo uma expansão de apenas 2,9% em 2025 e 2026 — abaixo dos 3,3% estimados para 2024. Será a primeira vez desde 2020 que a taxa de crescimento mundial ficará abaixo da marca simbólica de 3%.
A queda mais acentuada deverá ocorrer justamente nos EUA. Após crescer 2,8% em 2024, a maior economia do mundo deve desacelerar para 1,6% em 2025 e 1,5% em 2026.
A OCDE atribui essa retração não apenas ao impacto das tarifas impostas durante o governo de Donald Trump — agora retomadas com mais força —, mas também às restrições migratórias e ao enfraquecimento da força de trabalho federal.
“A combinação de protecionismo, incertezas políticas e fiscais e menor dinamismo comercial está minando a confiança dos investidores”, afirmou Álvaro Pereira, economista-chefe da organização. O cenário descrito é de pressões inflacionárias persistentes, que devem impedir cortes nos juros por parte do Federal Reserve antes de 2026.
As estimativas para outras grandes economias também foram revisadas. Na comparação com os EUA, países emergentes como Índia, Indonésia, Argentina e China devem liderar o crescimento do G20 até 2026. Entre os países ricos, as perspectivas são bem mais modestas: Alemanha, Japão, Itália e França devem crescer menos de 1% ao ano.
OCDE: Cenário fiscal e monetário pressionado
Além das tensões comerciais, a OCDE alertou para o aumento dos riscos fiscais em escala global. Governos enfrentam pressões por maiores gastos com defesa, mudanças climáticas e envelhecimento populacional. A recomendação da entidade é clara: reduzir despesas não essenciais e ampliar a base tributária para sustentar as finanças públicas.
Mesmo que as políticas tarifárias sejam revertidas, os efeitos benéficos para o crescimento não seriam imediatos, segundo o relatório. A persistência da incerteza política e a possibilidade de novas retaliações comerciais, especialmente por parte da China e da União Europeia, mantêm o ambiente de negócios instável.
No campo monetário, a OCDE também alertou que o caminho para o retorno das metas de inflação será mais longo do que o inicialmente previsto. Apesar da expectativa de normalização até 2026, os preços podem voltar a acelerar no curto prazo, o que exigirá vigilância constante dos bancos centrais.
O relatório foi divulgado durante a reunião anual da OCDE, que reúne ministros e representantes comerciais das 38 nações-membro. Participam do encontro nomes como Jamieson Greer (EUA), Maros Sefcovic (União Europeia) e Lin Feng (China).
A mensagem principal, segundo o secretário-geral Mathias Cormann, é a de que “acordos para reduzir tensões comerciais e remover barreiras tarifárias são urgentes e essenciais para reaquecer o investimento global”.
Veja o ritmo de crescimento dos países, segundo a OCDE:
Índia
2025: 6,3%
2026: 6,4%
Argentina
2025: 5,2%
2026: 4,3%
China
2025: 4,7%
2026: 4,3%
Indonésia
2025: 4,7%
2026: 4,8%
Turquia
2025: 2,9%
2026: 3,3%
Espanha
2025: 2,4%
2026: 1,9%
Brasil
2025: 2,1%
2026: 1,6%
Austrália
2025: 1,8%
2026: 2,2%
Arábia Saudita
2025: 1,8%
2026: 2,5%
Estados Unidos
2025: 1,6%
2026: 1,5%
Reino Unido
2025: 1,3%
2026: 1,0%
África do Sul
2025: 1,3%
2026: 1,4%
Canadá
2025: 1,0%
2026: 1,1%
Rússia
2025: 1,0%
2026: 2,2%
Coreia do Sul
2025: 1,0%
2026: 2,2%
Japão
2025: 0,7%
2026: 0,4%
Itália
2025: 0,6
2026: 0,7
França
2025: 0,6%
2026: 0,9%
México
2025: 0,4%
2026: 1,1%
Alemanha
2025: 0,4%
2026: 1,2%