Por Rafael Medeiros
Jornal Clandestino | TREZZE Comunicação Integrada | Espia Só Podcast.
A história do deputado estadual Renato Freitas (PT-PR) não é apenas mais um relato de racismo estrutural no Sul do Brasil — é um manifesto involuntário contra a branquitude opressora que molda nossas instituições. Quando a Justiça do Paraná, herdeira direta da Lava Jato e do lawfare morista, condenou Freitas a indenizar policiais brancos por “denegrir a imagem da corporação“, ela não apenas escancarou seu viés racista, mas também entregou de bandeja um conceito revolucionário: denegrir, no sentido literal, é tornar negro. E é exatamente isso que precisamos fazer com o Estado brasileiro.
A Cena do Crime: O Racismo como Esporte Policial
Enquanto Renato e seus amigos, jovens negros, jogavam basquete numa praça de Curitiba, um adolescente branco — filho de um vizinho do prefeito — fumava maconha impunemente. A polícia, é claro, ignorou o “maconheiro de elite” e partiu para a verdadeira caça: a criminalização da juventude preta. A abordagem violenta, a delegacia, a humilhação, tudo seguiu o roteiro clássico do racismo institucional. Mas o ápice veio depois: ao posar para uma foto em frente ao distrito policial, Renato ergueu o punho cerrado — um gesto revolucionário de resistência. A imagem, que viralizou como símbolo da luta antirracista, foi justamente o que a polícia usou para acusá-lo de “denegrir” a instituição.
Aqui, a linguagem não mente. Denegrir, no dicionário do poder, é um verbo que carrega o peso histórico da criminalização da negritude. Se um homem preto, ao resistir, “torna negro” o símbolo de uma polícia racista, então que façamos disso um projeto político.
A Farsa da Justiça: “Racismo Só Existe Se For Confessado”
A juíza que condenou Renato Freitas — com suas ligações afetivas e políticas com o lavajatismo e ao clã Moro — não apenas aceitou a narrativa policial como ainda deu um toque de absurdismo jurídico: segundo ela, o racismo só existiria se os policiais o confessassem. Como não houve “confissão”, não houve racismo. A lógica é perversa: o racismo estrutural, que não precisa de declarações explícitas para operar, foi simplesmente apagado por um decreto judicial. Enquanto isso, o gesto de Renato, o punho erguido que denunciava a violência do Estado, foi tratado como um crime maior do que a própria violência policial.
Denegrir como Ato Revolucionário
Renato Freitas, ao reivindicar o termo, propõe uma virada de chave: se “denegrir” é tornar algo negro no pior sentido para a branquitude, então vamos denegrir tudo.
– Denegrir a polícia é expor sua função real: não a “proteção”, mas a manutenção da ordem capitalista e racial.
– Denegrir a Justiça é lembrar que ela serve aos mesmos que mataram Marielle e soltam milicianos.
– Denegrir o capitalismo é mostrar que ele só prospera porque tem o racismo como alicerce.
– Lembrem-se bem de que seus bens de consumo nascem denegridos, pois são paridos nas mãos de trabalhadores NEGROS! Seus carros, jetskis, suas bebidas nos bares e restaurantes “denigrem”e subvertem todo produto em sua fabricação antes de chegar aos lares brancos da elite. Ta tudo “denegrido!!!”.
Não se trata de um jogo de palavras, mas de uma estratégia de luta. Se a branquitude teme a “negritude” das instituições, então precisamos ocupá-las, subvertê-las e, sim, denegri-las — no sentido mais radical de torná-las antirracistas, populares e revolucionárias.
A Sentença dos Oprimidos: R$ 16 Mil pela Ousadia de Resistir
Os R$ 16 mil que a Justiça paranaense exigiu de Freitas são a taxa que o Estado cobra por ousar existir como um corpo preto e insurgente. Mas a verdadeira dívida histórica é do Brasil com seu povo preto. Enquanto policiais recebem indenizações por terem sua “imagem denegrida”, quantos milhões não deveriam ser pagos às vítimas do racismo, do genocídio negro e da violência de Estado?
A resposta está na rua, nos quilombos urbanos, nas lutas como a de Renato Freitas. Denegrir, afinal, é também lembrar que nenhuma instituição racista sairá impune da história.
Que a história de Renato Freitas não seja apenas mais um caso arquivado, mas um estopim para que denegrir vire sinônimo de revolução.
-Escrevi este artigo ao som de: Racistas Otários, dos Racionais Mc’s.
Rafael Medeiros
Jornal Clandestino/ TREZZE Comunicação Integrada/ Espiasó Podcast.