sexta-feira, junho 6, 2025

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ECOLOGIA SEM LUTA DE CLASSE É JARDINAGEM”: O SANGUE VERMELHO QUE REGA A AMAZÔNIA NESTE 5 DE JUNHO

Por Rafael Medeiros
Jornal Clandestino | TREZZE Comunicação Integrada | Espiasó Podcast

O BERÇÁRIO DA REVOLTA
Euclides Fernandes Távora, o comunista que sobreviveu ao Levante Comunista de 1935 em Fortaleza e às trincheiras da Revolução de 1952 na Bolivia, encontrou no seringal acreano seu último discípulo. Nas noites úmidas da floresta, entre lições de alfabeto e “O Capital“, plantou em Chico Mendes a verdade incômoda:

Na Amazônia, toda seringueira cortada é um operário assassinado. Toda queimada, uma fábrica exploradora.

Eis a gênese da frase que hoje, 5 de junho de 2025, deveria estar em chamas nos discursos oficiais do Dia Mundial do Meio Ambiente:
Ecologia sem luta de classe é jardinagem

O REQUIEM DOS ANJOS GUERREIROS
Quando os tiros ecoaram em Xapuri naquela noite de 22 de dezembro de 1988 – exatamente quando o Brasil se embriagava com o último capítulo de “Vale Tudo” -, a banda Maná soube traduzir em versos o que a história oficial tenta apagar:

Era un hombre del bosque/conocía el secreto del viento/su única arma era la verdad/su religión, la libertad

Mas a canção “Cuando los Ángeles Lloran” não fala de um mártir ecológico. Canta um comunista formado na escola dura de Távora, que transformou “empates” em aulas práticas de materialismo histórico sob as árvores.

A LINHAGEM INTERROMPIDA
1988: Chico tombou com três tiros nas costas após o banho noturno – crime perfeito para os patrões da borracha.
2022: Bruno Pereira e Dom Philips foram esquartejados no Javari por mostrar ao mundo como o garimpo é o contrabando de madeira e peixes devora indígenas vivos.

A CENA QUE O CINEMA NUNCA ESQUECERÁ
Em 1994, seis anos após os tiros em Xapuri, Hollywood fez o que a Globo jamais faria: transformou Chico Mendes em épico. Em Amazônia em Chamas (The Burning Season), o lendário Raul Julia – já à beira da morte – deu ao seringueiro algo mais precioso que um Oscar: a imortalidade na tela grande.

Numa cena que arranca lágrimas até dos jagunços, Julia/Mendes encara a câmera com olhos queimando mais que as árvores da floresta:
Eles acham que podem me matar e tudo continuará igual. Mas eu já plantei a semente na terra de vocês.

Ironia cruel: o ator portorriquenho morreria semanas após as filmagens, completando a trágica profecia.

Entre esses dois pontos no mapa da morte, 34 anos de um mesmo roteiro:
1. Os corajosos denunciam
2. Os jagunços matam
3. A Globo distrai
4. Os jardineiros colhem rosas sobre os cadáveres

OS JARDINEIROS DO APOCALIPSE
Neste 5 de junho, enquanto o capital veste camisas de algodão orgânico, lembre-se:

1. Os certificadores que vendem selos verdes para madeira manchada de sangue
2. Os eco-influencers que posam com indígenas como troféus
3. Os políticos que aprovam leis ambientais escritas por ruralistas

São todos jardineiros – exatamente como Chico previu.

O DIA MUNDIAL DA REVOLTA
Hoje não é dia de celebrar a natureza. É dia de lembrar:

– Que a última seringueira está sendo derrubada agora mesmo
– Que o último isolado está sendo caçado neste instante
– Que o próximo mártir já está marcado para morrer

Enquanto Maná toca nas rádios, o verdadeiro hino da floresta é o ranger de dentes dos que ainda resistem:
Quando os anjos choram, nós fazemos chover balas de borracha e leis de exceção” – parece dizer o Estado.

A ÚLTIMA LIÇÃO
Távora ensinou a Chico. Chico ensinou a Bruno. A floresta nos ensina todo dia:

Ou você enfrenta a classe dominante, ou vira adubo para seus jardins de mentira.

Neste 5 de junho, escolha seu lado:
– Os jardineiros com suas tesouras de poda
– Os guerrilheiros com suas mãos cheias de terra e sangue

A Amazônia não precisa de flores. Precisa de fogo.

FONTES QUE ARDEM:
– Arquivo Távora (anotações clandestinas do seringal)
– Relatório “Sangue Verde” (CPT, 2024)
– Diário de Bruno Pereira (páginas roubadas pela polícia)

Assinado por quem ainda vê o fantasma de Távora nas árvores derrubadas

Por Rafael Medeiros

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