No programa 20 MINUTOS ANÁLISE de terça-feira (08/04), o jornalista Breno Altman abordou a estratégia do ex-presidente Jair Bolsonaro visando as eleições presidenciais de 2026, mesmo estando inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e sendo réu em um processo no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado. O programa também comentou sobre o ato a favor do projeto de anistia, realizado no último domingo (06/04) em São Paulo.
Sobre a reação de Bolsonaro após se tornar réu no STF por tentativa de golpe de Estado, Altman ressaltou a tentativa do ex-presidente de “manter sua liderança na extrema direita reafirmando sua candidatura presidencial para 2026, impedindo que qualquer outro nome de seu campo entre na disputa”, e lembrou que isso “reproduz a tática empregada pelo PT e por Lula em 2018, qual seja, a de esticar a corda até o último minuto do segundo tempo”.
“Com essa tática, Bolsonaro tenta manter pressão sobre o campo de direita, que depende de sua liderança para ter chances de concorrer contra o atual presidente em 2026. Obriga a uma ação comum até mesmo aqueles que gostariam de vê-lo abrir espaço para outra candidatura nas próximas eleições”, acrescenta o jornalista.
Altman também falou sobre as pretensões presidenciais dos governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos/SP), Ronaldo Caiado (União Brasil/GO), Romeu Zuma (Novo/MG) e Ratinho Junior (PSD/PR), que estiveram no ato realizado neste domingo em São Paulo.
“Sem o apoio de Bolsonaro, esses nomes provavelmente não têm qualquer tração e tenderiam a morrer na praia, além do risco de fragmentação entre os conservadores ser evidente. Mas isso não quer dizer um aval ilimitado à atual tática de Bolsonaro. Ao contrário, múltiplos movimentos nas forças de direita, em outra direção, são já bastante perceptíveis, e não apenas nos bastidores”, avaliou o fundador de Opera Mundi.
Segundo Altman, diante dessa disputa entre os governadores pelo espólio do bolsonarismo, “a própria questão da anistia vai adquirindo outro contorno. Antes vista como o pedágio a pagar para conquistar o apoio de Bolsonaro, agora vai passando a ser o prêmio a ser ofertado se o ex-presidente sair de cena e indicar outro nome para 2026”.
“São inúmeros os sinais de que ganha força, nas classes dominantes, a pressão para Bolsonaro desistir em favor de Tarcísio de Freitas, ao redor de quem poderia se formar uma ampla frente conservadora, a exemplo do que ocorreu nas eleições paulistanas, quando Ricardo Nunes foi eleito em uma coalizão que ia do MDB de Simone Tebet ao PL do próprio Bolsonaro. Com um bolsonarista moderado, poderia se recompor o campo conservador, cindido depois de 2018, quando a extrema direita deslocou, da liderança desse bloco, a velha direita liberal representada pelo PSDB, o antigo PFL e o ex-PMDB”, avalia.
José Cruz / Agência Brasil
Sobre o Governo Lula
Em sua conclusão, Altman também falou sobre os desafios do governo, que “foi ao parlamento propor cortes no aumento do salário mínimo, no acesso ao abono salarial e no direito ao BPC, afetando diretamente os direitos dos trabalhadores de menor renda. Foram golpes duros contra a principal camada de sustentação eleitoral de Lula, a que ganha menos de dois salários mínimos, que logo em seguida se viu às voltar com uma impetuosa carestia de alimentos”.
“Essa agenda do ajuste fiscal tentava agradar o andar de cima, no que relativamente fracassou, e acabou por desagradar o andar de baixo com bastante sucesso. Parece estar provado que esse caminho dilapida o capital político do presidente e do PT”, analisa.
O jornalista defende que “se o governo não girar efetivamente à esquerda, sua popularidade pode continuar abalada e isso tende a criar mais dificuldades ainda nas alianças. Além disso, sem esse giro, Lula e o PT ficariam desprotegidos se Bolsonaro mudar de tática e permitir o surgimento da frente ampla conservadora, dissipando o peso da questão democrática”.
“Para esse possível, cenário a confrontação contra o neoliberalismo deveria ser imediatamente restabelecida, com proposta e projetos capazes de provocar animação e mobilização nos setores populares, clareando nitidamente as diferenças entre esquerda e direita, com uma aposta aberta na polarização, na disputa político-ideológica”, considera Altman.
Fonte: Opera Mundi