terça-feira, maio 27, 2025

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Exército agiu para impedir PMDF de atuar contra acampamento golpista, diz coronel


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Por Cleber Lourenço

A coronel da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) e subsecretaria de operações Integradas durante o final de 2022 e início de 2023, Cíntia Queiroz, revelou em conversa com o ICL Notícias que a Polícia do Exército adotou postura sistematicamente omissa diante das tentativas de desmobilização do acampamento golpista montado em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, após o segundo turno das eleições de 2022. De acordo com a oficial, a atuação do Comando Militar do Planalto (CMP) não se restringia à inação, mas envolvia interferências diretas para inviabilizar operações previamente articuladas pelas forças civis e militares do Distrito Federal.

Segundo a Cíntia, mesmo com a mobilização de efetivos, viaturas e estrutura para garantir a retirada dos manifestantes, o CMP bloqueava a participação da PMDF, cancelando ações às vésperas ou até mesmo durante sua execução, sempre alegando “falta de segurança”. “Simplesmente não apoiaram. Todas as vezes. Se omitiram. O problema foi exatamente este. O CMP não aceitava a PMDF apoiar o DF Legal dentro do SMU. Dizia que quem faria este papel era a PE”, afirmou Cíntia, referindo-se à Polícia do Exército.

Ela relata que a própria justificativa do CMP — de que a Polícia do Exército seria responsável por esse tipo de atuação — era contraditória na prática. “Quando o bicho pegava e acionávamos a PMDF para agir, além do CMP não autorizar, eles imediatamente cancelavam a operação alegando falta de segurança. Eles alegavam que o papel de controle era da Polícia do Exército, mas quando a coisa ficava difícil eles se omitiam e ainda não deixavam a PMDF atuar.”

O bloqueio imposto pelos militares não era apenas simbólico. De acordo com Cíntia, eles desmobilizavam toda a rede de fiscalização e segurança pública envolvida na tentativa de desocupar a área. Os servidores alegavam não ter condições de agir sem o respaldo da PMDF e se viam desprotegidos diante de manifestações cada vez mais agressivas.

Segundo ela, a sucessão de recuos provocava tensão nas equipes e descrédito das autoridades locais, que chegavam a ser cobradas pela falta de efetividade.

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Cíntia Queiroz

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Cíntia afirma que “o maior desafio do GDF em atuar de forma assertiva em dissuadir o acampamento, residia exatamente no posicionamento do CMP, que não permitia afirmando que ali era uma área militar sob jurisdição deles”.

As declarações também apontam que o general Dutra, então comandante do CMP, não agia com autonomia. Segundo Cíntia, ele realizava ligações em tempo real para um general superior sempre que era confrontado com decisões operacionais mais sensíveis. “Presenciei ele ligar para esse general, mas não sei precisar quem era. Sabia que era um outro general que dava as ordens a ele”, relatou. A reportagem apurou, com base em depoimentos prestados pelo próprio Dutra à CPMI do 8 de janeiro e à Câmara Legislativa do DF, que esse superior seria o então comandante do Exército, general Freire Gomes.

O relato reforça que o comando sobre a manutenção dos acampamentos não era apenas local, mas partia de instâncias superiores dentro da hierarquia do Exército. A informação de que Dutra não agia sem autorização externa expande a responsabilidade para além do CMP, indicando que havia respaldo institucional para a não atuação.

Cíntia também descreveu o impacto dessas idas e vindas nas operações planejadas pelas estruturas civis. “Fazíamos todo o planejamento, escalamos o efetivo, o secretário, o governador, o comandante geral tinham uma expectativa em cada operação de fazer acontecer. E sempre víamos tudo ser interrompido por ordens que não eram nossas”, afirmou. Segundo ela, a sucessão de recuos provocava tensão nas equipes e descrédito das autoridades locais, que chegavam a ser cobradas pela falta de efetividade.

A ex-subsecretária afirmou ainda que o clima entre as equipes era de revolta constante, pois a ausência de respaldo militar tornava qualquer ação arriscada. “Tinha sempre um clima bem ruim com a gente”, disse. Segundo ela, a insistência do DF Legal em exigir a presença da PMDF antes de qualquer atuação se devia ao histórico de omissão da Polícia do Exército, que observava os conflitos “de braços cruzados”.

O relato de Cíntia Queiroz reforça que a permanência dos acampamentos golpistas em frente ao QG do Exército não foi resultado de falhas pontuais ou desorganização administrativa, mas de uma estratégia deliberada de obstrução. A atuação dos militares descrita por ela indica que houve uma escolha política de não interferência, contrariando a lógica institucional de defesa da ordem e do cumprimento das decisões civis.





Fonte: ICL Notícias

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