quarta-feira, abril 23, 2025

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Inflação, fome e política econômica do governo


Fazer as compras do mês é uma tortura. Nas filas dos caixas de supermercado, as mães de família fazem as contas e, constrangidas, desistem dos itens mais custosos. Medidas excepcionais, como comprar produtos essenciais com o cartão de crédito, hoje se tornaram uma necessidade. São as consequências da alta dos preços dos alimentos. A realidade vivida por uma grande parcela dos trabalhadores é ainda mais cruel: 64,2 milhões de pessoas (equivalente a 27,6% da população), marcadas pela chamada insegurança alimentar, passam fome.

Por um lado, os brasileiros tentam sobreviver com uma jornada extenuante de trabalho e com salários insuficientes; por outro, o governo se enlameia cada vez mais numa política econômica neoliberal que o desmoraliza perante o povo. O fim desse filme nós já vimos há menos de 10 anos.

Vistoria sobre abuso de preços em supermercados em Itapevi, em março de 2020. (Foto: Willian Leite/PMI)
Vistoria sobre abuso de preços em supermercados em Itapevi, em março de 2020.
(Foto: Willian Leite/PMI)

A inflação está corroendo a renda daqueles que conseguem trabalhar, após subir 5 pontos percentuais acumulados nos últimos 12 meses. Isso porque o custo de vida subiu muito nos últimos meses, com aumentos nos combustíveis (3%), tarifa de energia elétrica (17%), habitação (4,5%), arroz (8%) e café (10,8%). Desde o ano passado, na verdade, as famílias brasileiras estão sendo penalizadas com o aumento de mais de 20% do preço da carne bovina. A alternativa para o consumo mínimo de proteína diária é substituí-la por carne de frango e ovos nas refeições. Entretanto, o aumento de 15% no preço dos ovos de galinha impõe que o prato de comida do povo brasileiro seja composto apenas por arroz e feijão pelo menos três dias da semana. 

O fato é que a fome é uma das faces mais desumana desse sistema. 

Em vez de fazer piada com galinhas e ovos, o governo deveria tomar medidas concretas para defender a vida da nossa gente e reduzir o preço dos alimentos: realizar uma reforma agrária para acabar com a concentração da terra e garantir condições para o desenvolvimento da agricultura familiar, responsável por 75% de toda a comida que chega às mesas brasileiras; fortalecer a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para formar estoques públicos de alimentos; tabelar o preço dos itens essenciais; aumentar o salário mínimo e o Bolsa-família; etc. 

Mas o governo escolhe outro lado, como o Plano Safra 2024/2025, através do qual concedeu R$ 3,5 bilhões em crédito ao agronegócio para financiar a grande e lucrativa exportação de carne, soja e ovos. O mesmo agro que financiou a tentativa de golpe no país e que é responsável pelo envenenamento do solo e da água, pelo desmatamento, pelo massacre contra os povos indígenas e quilombolas; o mesmo agro que é responsável pelo uso da força de trabalho escravo no Brasil hoje. Esse é o setor que está sendo priorizado pela política econômica do governo. 

Rui Costa, ministro da Casa Civil, anunciou que, além de conversar com o mercado, grandes produtores e redes de supermercado para pedir gentilmente que reduzam seus lucros e os preços da comida, a principal medida para controlar a alta é reduzir as alíquotas de importação dos alimentos que estiverem com preços mais elevados em relação ao mercado internacional. E completou: “quero reafirmar, taxativamente: nenhuma medida heterodoxa será adotada, não haverá congelamento de preço, tabelamento, fiscalização, não terá rede estatal de supermercado ou de lojas para vender produtos, isso não existe, isso sequer foi apresentado nesta reunião ou em qualquer outra”. Realmente, o senhor ministro tem razão: dentro do sistema capitalista, um governo a favor dos ricos não pode permitir que essas medidas existam. 

Na mesma toada, Simone Tebet, ministra do Planejamento, comentou no último dia 25 que estava confiante na redução dos preços em até 60 dias devido às medidas adotadas e pediu paciência, pois “seria muito perigoso segurar o preço agora para, depois de seis meses ou um ano, o preço explodir”. Acontece que um ser humano normal e saudável pode levar no máximo 60 dias para morrer de fome, então quem está com fome hoje pode não estar vivo amanhã para ver os preços reduzirem, ministra. 

A reflexão que precisamos fazer é a seguinte: sente-se o clima de insatisfação nos ares. Nas filas do supermercado, pontos de ônibus e postinhos de saúde, só se fala em como a vida está difícil. Esse mal-estar coletivo pode rapidamente se transformar em revolta. Resta saber se podemos canalizar essa revolta para conquistar mais direitos para a classe trabalhadora. Já sentimos o aumento da temperatura, a luta contra a escala 6×1 que se desenvolve desde o último semestre e tem ganhado grande apoio popular; um novo Breque dos Apps nos últimos dias pelo fim da superexploração do trabalho. Ou nos unimos a essas e outras lutas populares para arrancar o mal pela raiz, ou deixaremos a avenida livre para o fascismo passar. Não tem espaço vazio.



Fonte: Opera Mundi

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