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O que antigamente era visto como “ano sabático” ganhou outro apelido da geração Z — os nascidos entre 1995 e 2009, que têm entre 15 e 29 anos em 2025: a microaposentadoria. É, basicamente, um período prolongado de descanso que alguém tira durante a carreira para o bem da saúde mental, e a geração que está entrando no mercado de trabalho está cada vez mais aderindo a esse movimento.
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O termo, inicialmente, viralizou no TikTok, e isso foi o suficiente para que se tornasse popular entre os jovens: “[Microaposentadoria] nada mais é do que tirar um descanso entre um emprego e outro para poder viajar, curtir com os amigos, fazer nada, enfim, curtir a vida ao invés de esperar por uma aposentadoria que talvez nunca chegue”, diz uma influencer em um dos primeiros vídeos que aparecem no TikTok quando se pesquisa o termo “microaposentadoria”. O vídeo soma quase 400 mil visualizações e 20 mil likes na rede social.
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Maicon Glienke, de 23 anos, é um dos jovens da geração Z que adotou a microaposentadoria durante oito meses, após um período conturbado no estágio. Estudante de Economia na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Maicon conta que, para ele, a experiência foi valiosa:
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— O que me motivou a fazer a pausa foram alguns acontecimentos no trabalho. Passei por uma situação bem complicada de abuso verbal por parte do dono da empresa onde eu estagiava, cheguei a passar por várias crises dentro do trabalho, chorei bastante… Era uma pressão psicológica muito grande, e eu me senti pressionado a decidir o que eu queria, porque via que estava sem saída. Eu não queria essa vida para mim — relata o estudante.
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Esse era o primeiro estágio de Maicon, e isso só corroborou para a sensação inicial de estar “encurralado”.
— Era a única experiência que eu tive e já foi horrível. Eu pensei comigo: “não é possível, não é todo trabalho que é assim”, então eu mesmo dei uma pausa para mim, para me recuperar e permitir [acreditar] que poderia ser diferente em outro lugar. Mas para eu começar em outro lugar, eu teria que estar mentalmente estável — continua.
Foi neste momento que o estudante optou pela pausa, ou melhor, a microaposentadoria. O período durou oito meses.
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— Eu não tinha exatamente planejado ficar oito meses, mas eu sabia que precisava de um tempinho. Eu já tinha uma reserva de dinheiro que havia juntado, e foi com essa reserva que eu me mantive na época. Chegando perto dos seis, sete meses, comecei a mandar currículo para outros lugares — explica.
Durante a pausa planejada, Maicon focou na faculdade, enquanto explorava novas áreas em feiras de emprego na própria universidade, a UFSC. O período foi importante para que o estudante percebesse que a área do financeiro era o que ele realmente gostava. Ele também ocupou o tempo com o lazer, e foi em busca da terapia.
— Se não fosse isso, eu iria para o próximo trabalho com a mesma “vibe” que eu estava no antigo, e eu estava esgotado emocionalmente. Isso com certeza iria afetar a minha performance no próximo, então foi essencial essa pausa para que eu pudesse recuperar minha energia, me colocar de volta nos eixos e seguir em frente — pontua.
A pausa, no entanto, exige planejamento financeiro, o que Maicon fez previamente.
— Uma microaposentadoria tem que ser muito bem pensada na questão financeira. Se você tem, quem sabe, uma ajuda financeira dos pais ou algo do tipo, super legal fazer. Caso você não tenha esse apoio, o que era o meu caso, mas tem alguma reserva financeira, se planeje muito bem, mês a mês, cada centavo que vai gastar — aconselha.
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Melhoria na produtividade
Para Michelle Wundervald, que é diretora administrativa e tem experiência na coordenação de equipes e alinhamento com as práticas de mercado, a prática vem para o bem-estar profissional e também está relacionada à produtividade.
— A partir do momento que a empresa consegue conceder esse tipo de “benefício” ao colaborador, ou até mesmo o próprio funcionário, quando ele consegue se organizar para se conceder esse período prolongado de descanso, ele sempre volta com uma produtividade melhor e sempre enxerga a empresa com mais satisfação: volta mais engajado, a própria empresa é vista por ele como uma organização que consegue enxergar o colaborador humano — opina a profissional.
Para Michelle, a microaposentadoria pode ser uma solução eficaz para combater o esgotamento profissional, principalmente em setores com alta demanda emocional ou física.
— O esgotamento geralmente é resultado de um acúmulo de estresse. A pessoa vai acumulando e acaba não descansando, principalmente o pessoal da escala 6×1, que não têm esse período prolongado de descanso. Então, a empresa oferecer esse período significativo de descanso e permitir que os colaboradores se desconectem completamente do trabalho é 100% eficaz. Eu acredito muito no quanto isso pode ser uma solução para combater esse esgotamento profissional — continua.
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As empresas podem adotar a microaposentadoria?
O benefício da microaposentadoria, segundo Michelle, tem que ser muito bem estruturado pelas empresas antes de aplicá-lo.
— Existe um custo, porque eu vou estar mantendo um colaborador afastado da função, mas recebendo o valor que ele receberia estando nela. Então, eu acho que hoje o que a gente mais enfrenta de dificuldade é isso, além da questão de logística de colaboradores. [Facilitaria], de repente, criar um banco de talentos interno, formar as pessoas não só para o que elas foram contratadas, mas também para que elas tenham a visão e saibam colaborar na vaga de um outro colaborador que esteja usufruindo desse benefício — pontua.
A iniciativa, inclusive, pode ajudar as empresas a atrair e reter talentos, conforme Michelle.
— Essa galera da nova geração vêm valorizando muito mais o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Hoje, eles dão uma priorizada principalmente para empresas e empregadores que demonstrem essa preocupação com o bem-estar dos colaboradores, das equipes. Na minha visão, as microaposentadorias são um diferencial competitivo nesse sentido, pois elas acabam mostrando que a empresa está disposta a investir no descanso, na recuperação dos colaboradores.
Microaposentadoria como tendência
Para Maicon, a adoção da prática deve aumentar cada vez mais entre as gerações que chegam, agora, ao mercado de trabalho.
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— Eu acho que ela é muito crescente porque a gente não aceita mais desaforo. Eu acredito que vai crescer, e não só na geração Z, mas nas próximas que vão vir também. Eu acho muito importante pela questão da saúde mental, e também é uma nova relação do empregado e empregador. Antigamente, doava-se muito pelo CNPJ, agora a gente busca mais um equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho — compartilha.
Bruno Paiva, psicoterapeuta especialista em neurociência e comportamento humano, diz que a ideia da microaposentadoria até pode se expandir, mas a realidade não será proporcional à tendência.
— Principalmente quando estamos falando do Brasil, com seus problemas socioeconômicos, e como uma cultura extremamente deficiente em termos de aprendizado e estudo. A minoria vai ter acesso, na prática, à microaposentadoria — afirma.
*Sob supervisão de Andréa da Luz
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Fonte: NSC