No 8º dia de greve de fome, Glauber está ‘bastante abatido’ e ‘um pouco fraco’, diz Sâmia

Por Gabriel Gomes

O deputado Glauber Braga entrou no 8º dia de greve de fome nesta quarta-feira (16), em razão do processo de cassação do seu mandato, aprovado pelo Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Após mais de uma semana, o parlamentar está ‘bastante abatido’ e ‘um pouco fraco’, segundo sua esposa, a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP).

O processo de cassação, aprovado pela Comissão de Ética da Câmara na quarta-feira (9), refere-se episódio em que Glauber foi abordado com provocações e ofensas à sua mãe, que estava doente, e retirou à força um militante do MBL (Movimento Brasil Livre), em abril de 2024.

“Ele está bem, os exames estão normais. Ele está bastante abatido e um pouco fraco porque são muitos dias sem se alimentar. Mas está firme, está focado, porque recebe muito apoio e está tomando cuidados médicos de não se expor muito, de poupar bastante energia. A dinâmica de visita está um pouco mais restrita, justamente para evitar tanto desgaste”, disse Sâmia Bomfim ao ICL Notícias.

No 8º dia de greve de fome, Glauber está ‘bastante abatido’ e ‘um pouco fraco’

Glauber Braga tem dormido dentro de um dos plenários, justamente o que sediou o encontro do Conselho de Ética que deu avanço ao processo de cassação. Desde o início da greve de fome, Glauber já perdeu mais de quatro quilos, saindo de 91,7 kg, no primeiro informe, para 87,1 kg, segundo boletim da manhã de terça-feira (15).

Glauber acredita que haja interferência do ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) no processo. Nesta manhã, em publicação na rede social X, Glauber escreveu: “Arthur Lira é a face do que há de pior no poder oligárquico brasileiro. Se eu aceito ser derrotado pelo poder da grana, isso representará um estímulo pra perseguirem outras lideranças e mandatos populares espalhados pelo país”.

Estou no 8º dia de greve de fome. Arthur Lira é a face do que há de pior no poder oligárquico brasileiro. Se eu aceito ser derrotado pelo poder da grana, isso representará um estímulo pra perseguirem outras lideranças e mandatos populares espalhados pelo país. Por isso, RESISTO!

— Glauber Braga (@Glauber_Braga) April 16, 2025

Segundo Sâmia Bomfim, o deputado busca resistir na greve de fome ao menos até a próxima terça-feira (22), quando se esgota o prazo para um pedido de recurso sobre o processo de cassação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara.

“A gente pode mudar nesse intervalo se tiver uma nova avaliação da situação política, se achar que vale a pena. Por hora, a gente está trabalhando com os prazos a que a gente tem direito. A previsão é de ir até terça-feira, no mínimo. A gente não sabe muito quando a greve termina, são muitos fatores políticos e de saúde que envolvem essa decisão, mas pelo menos até terça deve ir em função do prazo”, disse Sâmia.

Glauber recebe apoios na Câmara

Ao longo desta semana, Glauber recebeu o apoio de ministros do Governo Lula e movimentos sociais. Nesta quarta-feira (16), pela manhã, Glauber recebeu representantes do Conselho Nacional dos Direitos Humanos.

Glauber recebeu o apoio de ministros do Governo Lula e movimentos sociais. (Foto: Divulgação)

Nesta terça, por recomendação médica, o deputado foi impedido de participar de um encontro com membros do movimento estudantil. Mas, quase uma hora depois, ele contrariou as orientações e fez uma rápida aparição, sem discursar. Na segunda-feira, foi realizada uma roda de samba em apoio ao deputado. “Ele fica muito feliz e cheio de força com esses atos”, diz Sâmia Bomfim.

‘Inacreditavelmente’ não tivemos resposta de Hugo Motta, diz Sâmia

Nas últimas semanas, parlamentares que defendem a manutenção do mandato de Glauber tem tentado articular em sua defesa junto ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos–PB). Aliado de Arthur Lira (PP-AL), Hugo não tem atendido aos telefonemas desde a manhã do dia em que o Conselho de Ética aprovou o relatório contrário ao deputado.

Aliado de Arthur Lira (PP-AL), Hugo não tem atendido aos telefonemas. (Foto: Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados)

“Inacreditavelmente, até agora a gente não teve nenhuma resposta dele. A gente não sabe se ele está consultando os líderes ou se tem alguma definição de não abrir mesmo nenhum tipo de articulação. Por ora, ele não está considerando a greve de fome do Glauber, o que eu considero bastante grave porque é um instrumento de protesto, mas também uma forma de pressionar por um canal de diálogo que tem sido ignorado”, ressaltou Sâmia Bomfim.

“Acho que tem um acordo que, sem dúvida, envolve o Lira, e isso qualquer pessoa da Câmara de qualquer partido político afirma. Conversando com os líderes, a conclusão é de que é desproporcional, é descabido, é exagerado, injusto e abre um precedente, mas formalmente a gente ainda não tem nenhuma garantia a respeito dos votos”, completa.

Processo no Conselho de Ética

Em abril de 2024, o deputado retirou à força um integrante do MBL que ofendeu a mãe de Glauber, então hospitalizada e que viria a falecer no mês seguinte. Em agosto, o episódio foi examinado pelo Conselho de Ética e recebeu parecer de admissibilidade do relator do caso, Paulo Magalhães (PSD-BA).

O parecer foi aprovado na quarta-feira (9). O requerimento foi aprovado por 14 votos contra 4. Depois, Glauber fez o anúncio da greve de fome. O processo ainda precisa passar pelo plenário da Câmara.

A decisão de iniciar a greve de fome partiu exclusivamente de Glauber Braga. Como gesto de apoio, a deputada federal Luiza Erundina (PSOL-SP), de 90 anos, anunciou que também vai aderir ao ato do colega de partido.