O alerta que Lula recebeu do governador de Alagoas sobre a escolha do novo ministro do STJ

“Indicar Marluce é dar um presente para o bolsonarismo”, o governador disse a Lula, em conversa por telefone em abril passado, segundo ele mesmo relatou à coluna. O presidente ouviu, mas não deu pistas do que pretende fazer.

Maria Marluce é tia do prefeito de Maceió (AL), João Henrique Caldas, o JHC – aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), filiado ao PL de Bolsonaro e arquirrival do clã Calheiros. Há meses JHC sinaliza que vai migrar para a base aliada de Lula em troca da nomeação da tia, mas até agora o prefeito ainda não deixou formalmente o PL.

Conforme informou o blog, além de pressões, lobbies e vetos de todos os lados, Lula ainda tem que arbitrar uma disputa ferrenha entre os políticos rivais em Alagoas — que tem sido chamada de “Faixa de Gaza” nos bastidores de Brasília. Tudo por causa da candidatura de Maria Marluce, que provocou ruídos entre JHC e Lira e já antecipa as discussões sobre a formação dos palanques da campanha à reeleição do presidente Lula.

Na última terça-feira (27), o presidente indicou o desembargador Carlos Pires Brandão, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) para uma vaga do STJ reservada à Justiça Federal, mas a outra vaga na Corte superior, para o Ministério Público, permanece indefinida.

JHC está disposto a fazer de tudo para emplacar a tia no STJ. Depois de cogitar migrar para o PSD de Gilberto Kassab, o prefeito planeja se filiar ao PSB, aliado histórico dos petistas, em uma articulação nos bastidores que envolve o prefeito de Recife, João Campos (PSB).

Mas as tratativas de JHC com o PSB sofrem forte oposição da presidente estadual da legenda, Paula Dantas, filha do governador.

Na mesma conversa com Lula em que se opôs à escolha de Maria Marluce, Paulo Dantas disse ao presidente que acha difícil JHC cumprir a palavra e apoiar a sua reeleição em 2026 em troca da indicação da tia.

“JHC é mais acostumado a não cumprir compromissos do que a cumprir”, relata Dantas. “Na vida você tem de ter posição clara. Não pode estar com um comportamento em 2022, chegar em 2026 e aí mudar totalmente a sua trajetória. Como o maior líder da direita de Alagoas vai mudar de posição, dar um cavalo de pau nesse e amanhã vai estar votando no presidente Lula?”

Maceió foi a única capital nordestina em que Bolsonaro derrotou Lula nas eleições presidenciais de 2022 – 57,18% a 42,82%.

As movimentações de JHC são vistas com desconfiança também por alguns dirigentes da cúpula do PSB. Esses relembram que, em plenas eleições presidenciais de 2022, o prefeito largou o PSB para comunicar a migração para o PL de Bolsonaro – uma das razões para que os integrantes locais do partido tenham resistido a aceitá-lo de volta quando houve as primeiras conversas nesse sentido.

O anúncio, aliás, foi feito em pleno Palácio da Alvorada, em Brasília, ao lado de Bolsonaro, entre o primeiro e o segundo turno.

“JHC já se ofereceu a tudo em troca da tia. Ele se ofereceu para fazer o que Lula quisesse, inclusive apoiar (o ministro dos Transportes) Renan Filho para o governo e sair ao Senado ele próprio, contra Renan pai e o Arthur Lira. A tranquilidade com que ele se ofereceu para trair Lira pegou mal. Na verdade, ninguém confia nele, nem o Lula”, diz outra fonte que acompanha de perto as movimentações no tabuleiro político alagoano.

A lista tríplice para a vaga do STJ reservada a representante do Ministério Público foi enviada em outubro do ano passado ao presidente da República.

Além de Maria Marluce, integram a lista o subprocurador Carlos Frederico Santos e o procurador de Justiça do Acre Sammy Barbosa, apoiado por Dantas, e pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).