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Por Cleber Lourenço e Letícia Sanção
Glaycon Raniere de Oliveira Fernandes, primo do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), foi preso no último dia 21 de maio, em Uberlândia (MG), com 30 quilos de maconha e quatro gramas de cocaína. A prisão ocorreu durante uma operação de rotina da Polícia Militar, após denúncias anônimas sobre o transporte de drogas na região.
Glaycon está detido no Presídio Professor Jacy de Assis, onde permanece à disposição da Justiça. A unidade prisional é considerada uma das maiores da região e abriga presos provisórios e condenados.
A prisão ganhou contornos políticos por envolver um familiar direto de um dos principais nomes da bancada bolsonarista no Congresso. Glaycon é filho de Enéas Fernandes, tio de Nikolas, que foi candidato à prefeitura de Nova Serrana em 2024 com apoio declarado do deputado.
Registros públicos consultados pela reportagem mostram que, além do suporte eleitoral, a candidatura do tio foi impulsionada por emendas parlamentares destinadas à região por Nikolas Ferreira. As transferências orçamentárias ocorreram logo após o lançamento da candidatura, o que lança luz sobre o uso de recursos públicos para fortalecer alianças familiares e políticas.
A conexão entre os três elementos — o vínculo familiar, o apoio político e o uso de emendas — coloca pressão sobre a imagem de Nikolas, conhecido por defender uma pauta anticrime e de valores conservadores. A prisão do primo atinge diretamente a credibilidade desse discurso, ainda mais quando se considera o histórico de Glaycon nas redes sociais.
Primo de Nikolas e uso das redes
Antes da prisão, Glaycon mantinha uma presença ativa nas redes sociais, com publicacões em tom moralista sobre segurança pública e combate às drogas. Em agosto de 2023, comentou em resposta ao deputado Arthur Maia: “Busca e apreensão já! O que eles tanto temem? Mas essa resposta já sabemos, querem esconder o que fizeram e culpam outras pessoas!”.
Em outro post, de novembro do mesmo ano, ironizou o então ministro da Justiça, Flávio Dino: “Criminalidade aumentou, apreensão de drogas diminuiu, mortes aumentaram e ele tá fazendo um bom trabalho, tá sim!”.
Em maio de 2024, apenas dias antes da própria prisão, voltou a criticar a descriminalização da maconha e afirmou que os mais prejudicados pelas drogas eram “pretos e favelados”, acusando defensores da legalização de hipocrisia.
“Sabia que quem mais sofre com drogas são pretos e favelados? […] Essa sua incoerência de defender pretos não tá batendo!”, escreveu, em resposta a um professor. Glaycon também insinuava que defensores da descriminalização queriam liberar o uso indiscriminado de entorpecentes e desmoralizar o sistema educacional.
Em outras publicações, usou o Twitter para zombar de usuários de drogas e minorias, com frases como: “Só quem é contre, quem vai ou ia pra escole pra fumar maconhe e encontrar seus amiges de cabele pintade e piercing nas tetes, de variades gênere!”. As postagens refletem um tom irônico e estereotipado comum em perfis que orbitam o discurso bolsonarista nas redes.
Desgaste para Nikolas Ferreira
Internamente, aliados de Nikolas evitam comentar o caso. A prisão de Glaycon é considerada um desgaste para a imagem do deputado, que tem pautado seu mandato em discursos contra o crime, valorização da família e combate ao uso de entorpecentes. Nos bastidores, a preocupação é de que o caso repercuta negativamente em redutos eleitorais onde o discurso da ordem tem forte apelo.
A reportagem teve acesso a registros do sistema penitenciário do estado de Minas Gerais que confirmam a identidade completa de Glaycon, bem como sua entrada na unidade prisional. Os documentos indicam que ele não portava documentos no momento da prisão e foi identificado posteriormente por meio de consulta a bancos de dados.
Até o momento, não há informações sobre quem assumirá sua defesa ou se algum representante do gabinete de Nikolas acompanha o caso. A família também não se pronunciou publicamente.
Fonte: ICL Notícias