quarta-feira, abril 23, 2025

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Sérgio Pinheiro critica USP por evento com participação de Israel


O cientista político e professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP) Paulo Sérgio Pinheiro expressou sua indignação diante da iniciativa da Agência da USP de Cooperação Acadêmica Nacional e Internacional (Aucani) de promover uma feira intercultural internacional com a participação do Consulado de Israel, programada para o próximo 23 de abril.

Por meio de uma carta direcionada a Aucani, o professor aposentado do Departamento de Ciência Política da universidade pediu às autoridades da instituição pedindo a exclusão da diplomacia israelense do evento.

“Apelo à Aucani para que não permita a participação do consulado do Estado de Israel, cujas ações são frontalmente contrárias aos valores da comunidade acadêmica da USP. Esses fatos são pateticamente maquiados pela participação deste consulado com atividades na Feira Intercultural”, escreveu o defensor de direitos humanos e dirigente brasileiro na ONU.





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Pinheiro questionou o fato de a Aucani não ter levado em conta a decisão do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) que acionou Israel por genocídio, e do Tribunal Penal Internacional (TPI) que ordenou a prisão do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, por crimes de guerra e contra a humanidade na Faixa de Gaza.

“Enquanto escrevo esta mensagem, Israel segue bombardeando Gaza, forçando deslocamentos internos da população palestina, fazendo limpeza étnica destruindo hospitais e impedindo a chegada de ajuda humanitária. Entre os crimes de guerra mais recentes, em 2 de abril de 2025, está o assassinato de 15 paramédicos e membros de equipes de resgate pelas forças israelenses”, denunciou.

Apesar dos vínculos fortes com a USP, Pinheiro questionou a instituição para a qual trabalhou por anos: “é profundamente lamentável que a Universidade de São Paulo – instituição historicamente comprometida com os direitos humanos e o direito humanitário internacional – conceda espaço ao consulado do Estado de Israel, cujo governo e políticas de Estado violam, de forma sistemática, os princípios que nossa Universidade promove e difunde”.

UN Geneva/Flickr
Pinheiro questionou o fato de a Aucani não ter levado em conta a decisão TIJ que acionou Israel por genocídio em Gaza

Leia a carta de Paulo Sérgio Pinheiro a Aucani na íntegra

Prezados colegas,

Tomei conhecimento, por meio de circular, da ​Agência USP de Cooperação Acadêmica Nacional e Internacional, Aucani, que a Universidade de São Paulo concederá espaço ao Consulado de Israel na ​Feira Intercultural Internacional, em 23 de abril.

Considerando que o governo israelense continua a perpetrar um genocídio em Gaza e que sobre seu primeiro-ministro, por “crimes contra a humanidade e crimes de guerra` cometidos por ele em Gaza, pesa uma ordem de prisão decretada pelo Tribunal Penal Internacional, essa decisão merece reflexão.

A Aucani deveria ter levado em conta a decisão da Corte Internacional de Justiça, que, no ano passado, reconheceu a plausibilidade da ocorrência de um genocídio em Gaza e determinou que o Estado de Israel suspendesse todas as ações que pudessem contribuir para tal crime. No entanto, desde 1948, Israel tem historicamente desconsiderado resoluções e decisões de todos os órgãos políticos e judiciais da ONU. Em 2023, Israel chegou ao ponto de declarar o Secretário-Geral da ONU como persona non grata no país.

Enquanto escrevo esta mensagem, Israel segue bombardeando Gaza, forçando deslocamentos internos da população palestina, fazendo limpeza étnica destruindo hospitais e impedindo a chegada de ajuda humanitária. Entre os crimes de guerra mais recentes, conforme noticiado pela Globo e pela BBC em 2 de abril de 2025, está o assassinato de 15 paramédicos e membros de equipes de resgate pelas forças israelenses. No dia 1º de abril de 2024, Volker Turk, Alto Comissário de Direitos Humanos da ONU – organização com a qual colaboro há três décadas –, condenou veementemente essas mortes. Reproduzo essas notícias ao final desta mensagem.

É profundamente lamentável que a Universidade de São Paulo – instituição historicamente comprometida com os direitos humanos e o direito humanitário internacional – conceda espaço ao consulado do Estado de Israel, cujo governo e políticas de Estado violam, de forma sistemática, os princípios que nossa Universidade promove e difunde.

Diante disso, apelo à Aucani para que não permita a participação do consulado do Estado de Israel, cujas ações são frontalmente contrárias aos valores da comunidade acadêmica da USP. Esses fatos são pateticamente maquiados por este consulado com atividades na Feira Intercultural como “Shalom & Sugar! Aprenda Hebraico e ganhe um doce!” (sic) e “dança tradicional Israelita Harkada”.

Muito cordialmente,

Paulo Sérgio Pinheiro, pesquisador sênior e fundador em 1987 do Núcleo de Estudos da Violência, NEV/USP; professor titular de ciência política (aposentado), FFLCH USP; presidente da comissão independente internacional da ONU de investigação sobre a República Árabe Síria Genebra desde 2011; ex-ministro da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, no governo de Fernando Henrique Cardoso.

(*) Com Monitor do Oriente Médio



Fonte: Opera Mundi

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