O Sudão do Sul está vivendo uma nova escalada em seus conflitos internos que podem levar o país ao retorno da “guerra civil total”, a menos que a comunidade internacional adote uma “abordagem radical para estabilizar o país e se engajar novamente no processo de paz”.
Essa é a opinião do professor e pesquisador indiano Madhav Joshi, membro do Instituto Kroc para Estudos Internacionais da Paz e da Escola Keough de Assuntos Globais da Universidade de Notre Dame, expressada em um artigo publicado nesta segunda-feira no site The Conversation.
Segundo Joshi, “desde sua formação em 2020, o governo de unidade do Sudão do Sul não tem se mantido estável. O presidente Salva Kiir reformulou o gabinete, enfraquecendo a presença do principal partido de oposição, o SPLM-IO. Anteriormente, ele demitiu dois dos cinco vice-presidentes do país para promover seus aliados”.
“O governo de unidade foi formado como parte do Acordo Revitalizado sobre a Resolução do Conflito no Sudão do Sul. Esse acordo foi negociado e assinado em setembro de 2018 para pôr fim a anos de violência entre as forças leais a Kiir, de um lado, e Riek Machar, de outro”, acrescenta o acadêmico.
Joshi também argumenta que “sete anos após o início do processo de implementação (do acordo de paz), o Sudão do Sul ainda não cumpriu muitos daqueles compromissos. Entre eles estão a desmobilização, o desarmamento e a reintegração dos combatentes, além do treinamento e do estabelecimento das forças unificadas necessárias”.
“O cronograma para a realização de eleições, outra referência da transição, foi estendido até dezembro de 2026. Isso faz com que o processo de transição seja concluído em fevereiro de 2027, em vez do prazo inicial de janeiro de 2021. Essa é a quarta prorrogação mutuamente acordada”, explica o pesquisador.
Envolvimento de Uganda
No último dia 12 de março, a Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD, por sua sigla em inglês) da região, que tem a atribuição de lidar com questões de paz e segurança no Sudão do Sul, convocou uma cúpula para discutir os últimos acontecimentos.
Um dos países membros do IGAD é a vizinha Uganda, que enviou tropas de forças especiais para o Sudão do Sul. O chefe do exército ugandense, Muhoozi Kainerugaba, alegou que a medida visava “ajudar as forças locais na proteção da população contra grupos insurgentes”.
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“Nós reconhecemos apenas Salva Kiir como presidente do Sudão do Sul, qualquer movimento contra ele é uma declaração de guerra contra Uganda”, acrescentou Kainerugaba.
Vale destacar que o presidente de Uganda, Yoweri Museveni, e um dos maiores aliados internacionais de Kiir no continente africano.
Alternativas para a paz
Para Joshi, “o caminho para a paz e a estabilidade no Sudão do Sul é desafiador. Em minha pesquisa, examinei situações em que vários grupos armados continuam a lutar ou novos grupos surgem em situações de conflito”.
“Minha pesquisa mostra, de forma consistente, que a implementação de acordos de paz abrangentes estabiliza essas situações ao lidar com as incertezas de segurança, reformar as instituições e lidar com as queixas subjacentes”, ressalta o professor.
Em sua conclusão, Joshi defende que “as partes interessadas no Sudão do Sul devem priorizar a implementação do acordo de paz de 2018”.
“Como as partes signatárias não estão dispostas a implementar o acordo, alguém deve intervir para preencher esse vazio. Com todo o processo de paz mantido como refém e os principais signatários do acordo de paz marginalizados, esse caminho estreito só pode ser traçado com o apoio e a pressão da comunidade internacional”, complementa.
Com informações de The Conversation.
Fonte: Opera Mundi