Por Laura Mattos
(Folhapress) – A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) denuncia que sofreu ataques online e presenciais de manifestantes ligados a movimentos políticos de direita contrários à aprovação de cotas para pessoas trans, travestis e não binárias.
A nova modalidade de reserva de vagas, que será feita por meio do Enem, foi aprovada em 1º de abril pelo Conselho Universitário da Unicamp.
Uma das manifestações de opositores da medida, de acordo com a universidade, aconteceu no dia da aprovação, e outras haviam ocorrido anteriormente, em 24 e 27 de março.
Os atos aconteceram no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e envolveram manifestantes que seriam ligados ao MBL (Movimento Brasil Livre) e fizeram filmagens de murais do movimento trans e de banheiros neutros (que podem ser utilizados por qualquer pessoa, independentemente de gênero), além de arrancar cartazes e de provocar estudantes e professores.
Boletim de ocorrência registrado no 4º Distrito Policial de Campinas, em 27 de março, afirma que uma viatura da Polícia Militar foi chamada para atender um conflito entre manifestantes e estudantes, com xingamentos e agressão física. Um aluno relata no boletim que levou um soco no estômago, na genitália, foi jogado ao chão por um manifestante, além de ter sido chamado de “viadinho do PT”.
Foto: Reproduçåo / Unicamp
Na noite de segunda-feira (7), o reitor da Unicamp, José de Almeida Meirelles, postou um vídeo na conta oficial da universidade no Instagram afirmando que “nos dias 24 e 27 de março e no dia 1º de abril, o Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas foi vítima de ataques”.
“Esses ataques”, disse o reitor, “se configuraram através da gravação de vídeos não autorizados, da divulgação de imagens e mensagens distorcidas, da interrupção de aulas e do prejuízo do desenvolvimento dos trabalhos em nossa universidade”. “Estou aqui, como reitor da Unicamp, para condenar essas ações.”
Ele afirmou que a reitoria está desenvolvendo “um protocolo de ação pacífica, mas enérgica, na defesa da universidade”. Disse que haverá “um conjunto de ações judiciais”, entre as quais “o registro de um boletim policial contra indivíduos que adentraram a nossa universidade, fizeram gravações não autorizadas e difamaram a imagem da Unicamp nas redes sociais”.
Também afirmou que a reitoria irá apoiar, na Câmara Municipal de Campinas, a representação feita pelo IFCH contra o vereador Vinícius de Oliveira (Cidadania), que foi ao instituto para filmar os murais e banheiros neutros, condenando as cotas trans. Segundo o reitor, o político difamou a universidade nas redes sociais.
Unicamp e as cotas trans
A reportagem procurou o MBL e Vinícius, mas não teve retorno até a publicação deste texto.
O político, em um vídeo em seu perfil no Instagram, se filma entrando no IFCH durante a noite para mostrar os murais com pichações e cartazes do movimento trans em corredores e em banheiros neutros. Alguns dos cartazes e adesivos, entre eles alguns com propaganda de políticos de esquerda, são arrancados.
Também nas redes sociais, um dos manifestantes, Matheus Pereira, que se diz ligado ao MBL, postou vídeos em que aparece passando um rolo de tinta branco por cima de um mural do IFCH com cartazes em defesa dos trans.
Ele também filma um banheiro neutro e passa o rolo de tinta sobre frases do movimento trans escritas nos azulejos. Arranca ainda faixas e cartazes não somente em defesa dos trans como favoráveis à Palestina e contrárias a Trump.
Em uma das manifestações, também postadas em seu perfil, dezenas de estudantes batem palmas, dizem “recua, fascista, recua” e seguem caminhando de forma a tirá-lo do prédio. O influenciador faz provocações, chamando os estudantes de “porcaria”, entre outros xingamentos.
Quando um aluno se aproxima dele, o influenciador diz “sem beijar”. O vídeo também mostra estudantes xingando o influenciador de “lixo”, entre outras palavras.
Em boletim de ocorrência, Pereira afirma que foi ao local para denunciar “pichações de cunho político-ideológico” e que “vários alunos se juntaram e iniciaram uma confusão”. No conflito, ele afirma ter sido “agredido fisicamente com um chute na perda esquerda, empurrões e cusparadas”.
As cotas trans enfrentam também oposição no Legislativo. Nesta terça-feira (8), foi publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo um projeto de lei do deputado Tomé Abduch (Republicanos) que susta os efeitos da política de cotas trans na Unicamp, com a justificativa de que fere a igualdade de condições para o acesso à universidade.
Na semana passada, o vereador de São Paulo Rubinho Nunes (União Brasil) acionou o Tribunal de Justiça para questionar a legalidade das cotas trans e pedir a sua suspensão.
Fonte: ICL Notícias