O endurecimento das tarifas dos Estados Unidos sobre aço e alumínio preocupa o setor siderúrgico brasileiro e pressiona empresas a rebaixarem preços para seguir exportando ao mercado norte-americano. Para o presidente em exercício, Geraldo Alckmin, o aumento das tarifas “não é ruim só para o Brasil, é ruim para todo mundo, porque vai encarecer os produtos”.
O decreto do presidente Donald Trump — que voltou a valer na quarta-feira (4) — dobra de 25% para 50% a taxa sobre produtos semiacabados, como placas de aço, principais itens exportados do Brasil para os EUA.
O impacto pode ser significativo para siderúrgicas como ArcelorMittal e Ternium, grandes fornecedoras de placas para o mercado norte-americano.
Em maio, Jorge Oliveira, CEO da ArcelorMittal Brasil, afirmou que a tarifa de 25% já forçava a empresa a reduzir entre 5% e 7% o preço de seus produtos para competir com países asiáticos. Com a alíquota dobrada, o desafio se intensifica.
O Brasil, que antes exportava até 3,5 milhões de toneladas anuais de aço semiacabado sem taxação, perdeu esse benefício. Agora, todas as exportações enfrentam a tarifa cheia, igualando as condições com concorrentes internacionais. Isso afeta diretamente uma cadeia de valor bilateral.
“É uma cadeia importante”, afirmou Alckmin, também ministro do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio). “Lamento, mas qual o caminho? O caminho é incentivar ainda mais o diálogo”, completou.
Alckmin reforçou a interdependência econômica entre os dois países: o Brasil é o segundo maior comprador de carvão siderúrgico dos EUA, insumo essencial na produção de aço que, depois, é exportado de volta aos norte-americanos na forma de placas para uso nas indústrias automotiva e aeroespacial.
Elevação de alíquotas do aço teve impacto moderado nas exportações
Apesar da alta dos impostos, os volumes exportados não caíram drasticamente até agora. De fevereiro a maio, a exportação mensal de placas caiu de 381 mil para 268 mil toneladas — recuo considerável, mas moderado, dada a dependência dos EUA por aço importado. A ArcelorMittal, por exemplo, abastece diretamente sua planta no Alabama, uma das maiores consumidoras do tipo de aço importado.
Contudo, especialistas alertam que a nova tarifa pode afetar a rentabilidade das operações no Brasil.
Por sua vez, o governo brasileiro tenta reativar a estratégia de negociar cotas de exportação diretamente com a Casa Branca.
Um grupo de trabalho bilateral já foi criado, com encontros presenciais e virtuais. O argumento brasileiro é que os EUA estão penalizando sua própria indústria, que não tem como substituir rapidamente o fornecimento externo. “O Brasil não é protecionista em relação aos EUA”, destacou Alckmin. “Dos dez produtos que eles mais exportam para nós, oito têm tarifa de importação zero.”
Enquanto isso, as siderúrgicas aguardam. A alternativa de redirecionar a produção para o mercado interno é vista como inviável, por falta de demanda. E vender para outros países, especialmente na Ásia, envolve enfrentar uma concorrência ainda mais acirrada.
Por ora, os efeitos da nova tarifa já começaram a se refletir em preços mais baixos e margens mais estreitas.