Yoko Ono — musicista, artista, ativista e viúva de 92 anos do falecido John Lennon — foi quem mais sofreu com o ódio quando os Beatles se separaram em 1970, e detalhes revelados no novo documentário “One to One: John & Yoko” destacam sua luta pessoal.
Gravações de áudio do início dos anos 1970 – os anos que se seguiram imediatamente à separação do grupo – aparecem na nova produção, lançado nesta sexta-feira (11) nos Estados Unidos, no qual Ono fala sobre o assédio que sofreu.
Embora sua presença durante as sessões de gravação dos Beatles no final dos anos 1960 tenha causado tensão, Ono sempre negou ter sido a responsável pelo fim dos Fab Four.
“Supostamente sou a pessoa que acabou com os Beatles, sabe? Quando eu estava grávida, muitas pessoas me escreveram dizendo: ‘Espero que você e seu bebê morram’”, diz Ono no filme.
Ela continua dizendo que, quando andava pela rua com Lennon, “as pessoas vinham até mim dizendo coisas como: ‘japonesa feia’. Puxavam meu cabelo, batiam na minha cabeça e eu estava prestes a desmaiar.”
Naquela época, acrescenta, sofreu três abortos espontâneos.
“One to One” narra a vida de Lennon e da artista no início dos anos 1970, quando se mudaram da Inglaterra para Nova York, vivendo em um pequeno apartamento no Greenwich Village enquanto se tornavam ativistas políticos proeminentes no início da carreira solo do ex-Beatles.
O documentário é um mosaico de telefonemas gravados por Lennon e Ono, além de trechos remasterizados do concerto beneficente “One to One” de 1972 — o primeiro e único show completo realizado pelo músico após o fim dos Beatles e antes de sua morte em 1980.
Sean Lennon, filho de Ono e Lennon, atuou como produtor executivo do filme e ajudou na remasterização das imagens do concerto.
Em certo momento do documentário, o casal aparece participando da primeira Conferência Feminista Internacional na Universidade de Cambridge, onde Ono fez um discurso sobre sua experiência de ter “liberdade relativa como mulher” antes de sua ligação com Lennon mudar tudo.
Quando conheceu o cantor, ela disse: “A sociedade de repente me tratou como uma mulher que pertencia a um homem que era uma das pessoas mais poderosas da nossa geração.”
“Como toda a sociedade começou a me atacar e desejar minha morte, comecei a gaguejar”, disse ela. “E de repente, por estar associada ao John, passei a ser considerada uma mulher feia… Foi quando percebi como é difícil para nós. Se eu, sendo uma mulher forte, comecei a gaguejar, é um caminho muito difícil.”
Em 2010, Ono disse ao jornalista Anderson Cooper, da CNN, que, mesmo que os Beatles já estivessem prestes a se separar antes disso, as pessoas “não pensavam nisso”.
“Acho que fui usada como bode expiatório, e é um dos muito fáceis. Uma mulher japonesa, e tudo mais”, disse ela na época, acrescentando que sentia que havia “sexismo” e “racismo” envolvidos, porque “os Estados Unidos e a Grã-Bretanha estavam lutando contra o Japão na Segunda Guerra Mundial”.
No fim das contas, Ono perseverou como pôde, porque o amor entre ela e Lennon era muito forte.
“Era algo meio distante, de certa forma, porque John e eu éramos tão próximos. Estávamos totalmente envolvidos um com o outro e com nosso trabalho”, disse ela a Cooper. “Isso era muito mais emocionante.”
A produção do cineasta vencedor do Oscar, Kevin Macdonald, ainda não tem data para chegar ao Brasil.
Veja o trailer do documentário
Fonte: CNN Brasil